31 julho 2006

A nova literacia mediática

Tudo era tão simples antes das tecnologias da informação. Agora precisamos de saber mais sobre o meio do que sobre o assunto.

Excelente texto de Paulo Querido, na revista Actual do Expresso desta semana.

30 julho 2006

Piano forte

Se o Ministério da Cultura apoiou o Centro de Belgais para o Estudo das Artes com 65 mil euros em 2003 e até ao momento o centro não apresentou qualquer justificativo de como foram gastas as verbas, será que o país actual pode pactuar com este tipo de laxismo (para não lhe chamar outra coisa)?

O que explicará uma tão prolongada ausência de justificativos? O dinheiro não foi preciso? Ainda não foi decidido como irá ser gasto? Ou já não se sabe para que serviu? Entende a ilustre pianista que não tem de prestar contas atempadamente dos subsídios que lhe são atribuídos pelo Estado? Estas coisas não a torturam? Parece que não. Pelo menos, é o que transparece da aparente naturalidade com que a esta questão responde na sua carta aberta de hoje, no Público:

Se o Ministério da Cultura ainda não recebeu os justificativos do patrocínio que nos atribuiu, vai recebê-lo em breve (...)

Como, por tudo e por nada, se diz na Jamaica: "no problem".



Mais e melhor em:

Eduardo A. Pitta
João Gonçalves
Helena Matos
O Primeiro de Janeiro
RTP

Cartilha para o nosso agir comum


Frei Bento Domingues, hoje, no Público:

O diálogo é uma provocação, isto é, convoca-nos não só para escutar o outro, o diferente, mas para rever as nossas próprias convicções, que, ao longo do tempo, nos impediram de reco­nhecer a humanidade que nos falta, por nos termos fechado ao que há de mais genuíno nos outros, nas suas convicções, tradições e projectos.

Não se dialoga quando se está, apenas, interessado em fazer a apologia das próprias convicções sem espaço para acolher as dos outros.

Escutar o outro, respeitar a diferença, rever as nossas próprias convicções, ao invés de fazer apenas a sua apologia. Nada que assegure o caminho para a santidade. Mas que o mundo seria bem melhor se essa fosse a "cartilha" do nosso agir comum, lá isso seria.

29 julho 2006

Querido Abrupto

Não faço a mínima ideia do que estará por trás dos recentes (e continuados) problemas que têm afectado o Abrupto. Mas que a situação me preocupa, preocupa. O que não entendo (e julgo que seria perfeitamente dispensável) é esta blogosférica disputa que por aí vai entre o "foi um ataque ao Abrupto", do Pacheco Pereira e o "não foi nada", do Paulo Querido. Não será mesmo algo incoerente que tratando-se de duas destacadas figuras do espaço público (e da blogosfera), tão habituados à livre argumentação e debate, tenham os dois resvalado para um ad hominem (mais encapotado num do que noutro) que deixa na sombra a compreensão do que realmente está em causa? Com o devido respeito, que tal um Abrupto mais Querido e um Querido menos Abrupto?

Excerto de um livro não anunciado (329)

Tomemos como exemplo o caso da função conhecimento: o facto de alguém a quem queremos influenciar se mostrar relutante em aceitar a nossa opinião sobre um qualquer acto praticado por uma terceira pessoa, pode ficar a dever-se muito mais à atitude geral negativa que o nosso interlocutor já possui sobre essa pessoa do que propriamente a um juízo particular sobre o isolado acto em causa, mesmo quando o seu comentário ou crítica se refira exclusivamente a este último. Nesse caso, continuar a fazer incidir a nossa argumentação exclusivamente sobre a diferença que aparentemente nos separa (ao nível da apreciação de tal acto) pode tornar-se no equivalente a “falar para as paredes” pois é a atitude que permanece oculta por detrás das palavras proferidas pelo nosso interlocutor a verdadeira responsável pela sua dificuldade em se deixar persuadir e não o motivo circunstancial que ele, eventualmente, nos verbalize. A atitude aparece assim estreitamentre relacionada com a motivação e, como vimos na definição que nos é dada por Petty e Cacioppo, tanto pode ser positiva como negativa. Logo, da mesma forma que uma atitude positiva sobre determinada pessoa, objecto ou questão predispõe para o conhecimento de actos, características ou aspectos directa ou indirectamente ligados a cada um desses seus três alvos, também uma eventual atitude negativa levará, regra geral, à situação inversa. Em síntese, se vemos melhor e mais facilmente aquilo que queremos ver, também conhecemos pior e com mais dificuldade aquilo que não queremos conhecer.

26 julho 2006

Sexo temporizado

Eduardo Prado Coelho termina assim a sua crónica de hoje, no Público:

"A ideia de a sexualidade poder começar muito antes de qualquer arranque para um orgasmo e a obsessão do orgasmo pode acabar com o prazer da duração nestas coisas. Temos ainda imenso a aprender"

Temos ainda imenso a aprender? Bom... é natural que o cronista fale apenas por si. Porque quanto às aludidas sondagens sobre hábitos sexuais, estamos conversados. Que credibilidade pode merecer alguém que é capaz de determinar ao minuto o tempo que demoram as suas relações sexuais? Que se saiba, o sexo ainda não é nenhum contra-relógio, mesmo se requer alguma pedalada...

Excerto de um livro não anunciado (328)

Até que ponto esta classificação das diferentes funções psicológicas asseguradas pelas atitudes pode revelar-se importante para a escolha e implementação da melhor estratégia persuasiva? Poderemos dizer que há nela, sem dúvida, um certo artificialismo, pois na prática, nunca é possível isolar tão nitidamente cada uma das funções que a integram, seja pela falta de um rigoroso critério delimitador ou porque uma só atitude pode muito bem assegurar, simultâneamente, dois ou mais tipos de funções. Mas esse é, muito provavelmente, o preço a pagar pela maior operacionalidade analítica que esta classificação parece vir conferir ao estudo da persuasão. Além do mais, a simples tomada de consciência de tal limitação sempre permitirá ao sujeito persuasor uma reelaboração correctiva no momento em que tem de inferir as verdadeiras razões porque o seu interlocutor se mostra mais inclinado a aceitar ou a rejeitar os seus argumentos.

23 julho 2006

Sem comentários

Lê-se no Origem das Espécies:

"Este blog deixa, a partir de hoje, de ter comentários. Não tem a ver com a publicação de opiniões contrárias, no espaço do blog destinado aos comentários -- nunca houve censura. Mas qualquer blogger tem direito a manter limpo e decente o seu blog"

Não me surpreende esta decisão de Francisco Viegas. É em tudo idêntica, à que tomei por antecipação, há três anos atrás. Vá-se lá saber porquê, logo nessa altura fiz um prognóstico antes do fim do jogo - no que contrariei abertamente a famosa regra do meu vizinho João Pinto - e decidi-me pela não inclusão de caixa de comentários. Em boa hora, posso dizê-lo, face ao que tenho observado por essa blogosfera fora.

Um blogue é uma extensão do seu autor, a sua casa virtual, o registo do seu pensar e sentir, é enfim, um lugar de posse, uma morada pessoal. As visitas são bem-vindas, muito bem-vindas. Mas, naturalmente que, aqui, como em minha própria casa, não aspiro nem pretendo ser visitado por todos. É por isso que, tal como na cantiga "Monotone" da banda "A Naifa", fecho a porta à chave com duas voltas. Posso assim receber apenas quem vem por bem. Nada disto me seria possível se tivesse por hábito deixar a porta aberta, que é o que uma caixa de comentários realmente é.

A arte da metáfora

Para Lula, a oposição deve "lavar a boca"

(título) in Folha de S. Paulo, 23 Julho 2006

22 julho 2006

Os blogues e as reacções quase adolescentes

"Eles [os blogues] são simultâneamente actos públicos de informação e comunicação e ao mesmo tempo reacções quase adolescentes de expressividade"

Eduardo Prado Coelho, Público, 14 Julho 2006

Se é absolutamente trivial afirmar que os blogues são actos públicos de informação e comunicação, já para os classificar como “reacções quase adolescentes” seria necessário, no mínimo, observar a blogosfera com alguma atenção e regularidade, coisa que Eduardo Prado Coelho confessa (ia a dizer, se gaba de…) não fazer. Ainda assim, se o mero escrever num blogue é uma reacção “quase adolescente de expressividade”, o que dizer quando, no blogue ou no jornal, na rádio ou na televisão, alguém ousa dissertar sobre aquilo que confessadamente desconhece?

Acresce que, em matéria de "reacções quase adolescentes de expressividade" os blogues estarão ainda muito longe de atingir o nível de "sem assunto" de tantas e tantas crónicas. Ainda há dias, por exemplo, dei comigo a ler uma "não-crónica" num jornal de referência, a pretexto do excessivo calor dos últimos dias. Ora "não-crónica" é, por definição, o que o cronista escreve quando não tem nada para dizer. Há até quem lhe chame técnica de "encher chouriços". Técnica que - não será demais recordar - é muito anterior à chegada dos blogues.

Não consigo, por isso, perceber porque que é que as reacções de quem escreve num blogue deveriam ser mais adolescentes ou até mais infantis do que as reacções de quem escreve num jornal. Será que Pacheco Pereira escreve como adulto no Público e como adolescente no Abrupto? Todo o cuidado é pouco: o absurdo anda por aí.


Estado crítico da Educação


O Ubiversidade foi reanimado com dois posts de partir a loiça.

21 julho 2006

Ai que falta de vontade

Maria Filomena Mónica (*), tendo "The Spectator" como fonte, vai avisando:

"Os europeus são uma espécie em vias de extinção".

A data da extinção é que pode variar. Por exemplo:

- Antes do ano 3000 estaremos todos mortos.
- O último francês expirará em 2107.
- O último italiano em 2180.
- E o último inglês em 2780.


(Como de costume, do português, nada se sabe...)

Remate da cronista:

"E andou Malthus a alertar-nos para um perigo que, afinal, nunca existiu. Não será por falta de alimentos que a Civilização, tal como a conhecemos, desaparecerá, mas devido à falta de vontade de procriar."

É isso. Não há fome que não dê em fartura...

(*) in "Publica", 16 Julho 2006

19 julho 2006

Excerto de um livro não anunciado (327)

Até que ponto esta classificação das diferentes funções psicológicas asseguradas pelas atitudes pode revelar-se importante para a escolha e implementação da melhor estratégia persuasiva? Poderemos dizer que há nela, sem dúvida, um certo artificialismo, pois na prática, nunca é possível isolar tão nitidamente cada uma das funções que a integram, seja pela falta de um rigoroso critério delimitador ou porque uma só atitude pode muito bem assegurar, simultâneamente, dois ou mais tipos de funções. Mas esse é, muito provavelmente, o preço a pagar pela maior operacionalidade analítica que esta classificação parece vir conferir ao estudo da persuasão. Além do mais, a simples tomada de consciência de tal limitação sempre permitirá ao sujeito persuasor uma reelaboração correctiva no momento em que tem de inferir as verdadeiras razões porque o seu interlocutor se mostra mais inclinado a aceitar ou a rejeitar os seus argumentos. Tomemos como exemplo o caso da função conhecimento: o facto de alguém a quem queremos influenciar se mostrar relutante em aceitar a nossa opinião sobre um qualquer acto praticado por uma terceira pessoa, pode ficar a dever-se muito mais à atitude geral negativa que o nosso interlocutor já possui sobre essa pessoa do que propriamente a um juízo particular sobre o isolado acto em causa, mesmo quando o seu comentário ou crítica se refira exclusivamente a este último. Nesse caso, continuar a fazer incidir a nossa argumentação exclusivamente sobre a diferença que aparentemente nos separa (ao nível da apreciação de tal acto) pode tornar-se no equivalente a “falar para as paredes” pois é a atitude que permanece oculta por detrás das palavras proferidas pelo nosso interlocutor a verdadeira responsável pela sua dificuldade em se deixar persuadir e não o motivo circunstancial que ele, eventualmente, nos verbalize.

17 julho 2006

O caso Avillez à luz do actual Estatuto do Jornalista

Se Maria João Avillez escreveu um texto *pago* para um anúncio do BPP, como afirma Eduardo Cintra Torres, no Público de ontem, então nem o mais "criativo" advogado lhe poderá valer: violou com todas as letras o disposto no ponto 2. do art.º 3.º, Capítulo I, do Estatuto do Jornalista.

Mas se o texto não foi pago ou não existe prova de que tenha sido pago, tudo pode mudar de figura, pois, de acordo com a supra indicada disposição estatutária, só é considerada actividade publicitária incompatível a que dá lugar a "recebimento de ofertas ou benefícios" que (...) "visem divulgar produtos, serviços ou entidades". O que, nesta segunda hipótese, não se teria verificado ou, pelo menos, não teria ficado provado.

Resta ainda a possibilidade do caso configurar uma das incompatibilidades estabelecidas na alínea a) do ponto 1., do dito Art. 3.º: "desempenho de funções de angariação, concepção ou apresentação de mensagens publicitárias". E é aqui que a "retórica de fugir ao susto" como lhe chama Eduardo Cintra Torres - já iniciada pelo advogado de Avillez - pode ter "pernas para andar". Sim, é claro que "o espaço em que Avillez participa é publicidade". Mas já não será tão liquido que a jornalista de quem se fala tenha desempenhado "funções de angariação, de concepção ou apresentação de mensagens publicitárias". Ora é bom lembrar que só estas últimas se encontram cominadas. Direi, por isso que, ou muito me engano, ou falta elástico ao actual Estatuto do Jornalista para alcançar o patamar jurídico onde este caso virá, por certo, a ser decidido.


É altura de questionar


Isto é anúncio que se apresente? Já se viu propaganda mais cuidada na Feira de Espinho...

15 julho 2006

Peça que nós transmitimos

Com a devida vénia, faço minhas estas perguntas de Manuel Pinto.

A peça do Público, de resto, resultou confusa e marginal, pelo menos, face ao que de mais importante parece estar em jogo. A própria "decisão da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas de solicitar a Maria João Avillez que entregue a sua carteira" terá funcionado mais como pretexto do que como real motivo.

É que, da maneira como foi redigido, o texto mostra-se especialmente apto à "defesa" da actividade (ou imagem) da CCPJ, conferindo-lhe uma visibilidade que supostos jornalistas "desinteressados" insistirão em não patrocinar. O título, aliás, não engana. Mais do que aprofundar o caso Maria João Avilez, interessa é saber o que tem "ofuscado" a Comissão da Carteira. A Comissão está viva, portanto. Viva a Comissão. Sem cerimónia, a jornalista avança de panegírico na mão: "A atitude da Comissão tem (...) sido saudada por jornalistas e académicos da área". Grande momento.

Excerto de um livro não anunciado (326)

Uma segunda razão porque os investigadores da persuasão se orientam particularmente para as atitudes, prende-se com o facto destas últimas expressarem importantes aspectos da personalidade individual. Segundo Katz, citado por Petty e Cacioppo (*), são quatro os tipos de funções que as atitudes asseguram a uma pessoa: função ego-defensiva - atitudes que ajudam as pessoas a proteger-se das verdades desagradáveis para si próprias ou para aqueles que lhe são próximos; função expressão de valor – quando manter uma determinada atitude permite à pessoa expressar um valor importante; função conhecimento – atitudes que levam a pessoa a entender melhor o que se passa à sua volta; finalmente, função utilitária – atitudes que ajudam a pessoa a ganhar recompensas ou evitar punições. Exemplos de atitudes ligadas a cada uma destas funções, seriam, respectivamente, os homens que por desprezarem os homossexuais reforçam os seus próprios sentimentos de masculinidade (função ego-defensiva), a pessoa que prefere o aquecimento através de painéis solares por o seu uso demonstrar uma preocupação pela conservação da energia (função expressão de valor), a constatação de que o não se gostar de uma pessoa favorece ou predispõe para melhor conhecer os seus actos mais reprováveis (função conhecimento) e por último, o empregado que adopta as atitudes do patrão antes de lhe ir pedir um aumento de salário (função utilitária).

(*) in Petty, R. e Cacioppo, J.,(1996), Attitudes and Persuasion: Classic and Contemporary Approaches, Oxford: Westview Press, p. 8

14 julho 2006

iPod-consulta pública

Quero comprar um iPod e estou indeciso entre o Nano (modelo mais antigo, à esquerda) e o de 30 GB (modelo mais recente, à direita). Em princípio, considero o tamanho e o peso do Nano, os ideais para um iPod. Mas as novas funções e características do modelo de 30 GB também não são nada de desdenhar.

A questão é a de saber se estas últimas justificarão o maior tamanho e peso do mais recente modelo. Alg
uém me aconselha? Obrigado.


PS- O modelo de 60 GB está fora de qualquer hipótese por o considerar demasiado pesado.

11 julho 2006

Excerto de um livro não anunciado (325)

Mas se as atitudes emergiram como principal foco dos pesquisadores de persuasão, foi, em grande parte, por se presumir que influenciam (quando não ditam mesmo) a orientação do comportamento, tornando assim este último mais ou menos previsível. Como os citados autores sublinham, constatou-se a existência de uma forte interligação entre crenças, atitudes e comportamentos, já que os princípios envolvidos pela modificação de atitudes são os mesmos que presidem à modificação de uma crença ou comportamento. Não surpreende, por isso, que as atitudes possam ser vistas como sumário condensado de uma larga variedade de crenças e, nessa medida, constituam uma parte muito importante da interacção social. Mas os investigadores da persuasão têm pelo menos mais duas boas razões para centrar a sua atenção nas atitudes. Em primeiro lugar, porque elas permitem aos outros uma estimativa ou previsão do tipo de comportamentos que estamos predispostos a assumir e fazem-no de um modo muito mais apurado do que tudo ou quase tudo o que lhes pudessemos dizer. Assim, por exemplo, se dizemos a alguém que os filmes americanos dão mais realce ao entretenimento do que à mensagem essa pessoa continuará sem saber se deve ou não convidar-nos a ir ao cinema. Mas se, ao invés, lhe dissermos os filmes hoje em dia são tão maus e repugnantes que me dão vómitos, aí já toda a dúvida e incerteza será removida da sua mente e seguramente que só por brincadeira ou provocação ousaria fazer-nos um tal convite. Ou seja, a atitude pessoal neutra (nem positiva nem negativa) nunca é tão afirmativa como a atitude polarizada ou extrema.

09 julho 2006

Ministério da vaidade

Esta (*) notícia surpreendeu-me. Primeiro, porque, se não me engano, em mais de 30 anos democráticos, é a primeira vez que alguém confessa ter ido para ministro por vaidade e sedução de poder. Depois, porque quando está em jogo o interesse nacional, a decisão de aceitar um importante cargo político não pode nem deve ficar à mercê de motivação tão egoísta. Merecida é, por isso, a ironia cortante do rótulo: “Contributo para aumentar a credibilidade dos políticos”.

O ex-ministro era (é) vaidoso? Sentia (sente) uma particular atracção pelo exercício do poder? Tinha (tem) uma especial necessidade de reconhecimento público? Que fosse, que sentisse, que tivesse. Não viria daí algum mal ao mundo. Até um certo grau de afirmação, cada uma dessas características pessoais podem não só influenciar positivamente o desempenho político do indigitado ministro como realçar até a sua “humanidade”. O problema é outro e dá-se a ver quando percebemos que tais características pessoais terão sido o centro motivacional do ex-ministro ou, dito de outro modo, as principais razões porque aceitou o cargo de Ministro das Finanças. É isso que me parece intolerável. E é também isso que, a meu ver, justifica plenamente a ironia do Pedro Fonseca.

Quanto à confissão/revelação de Bagão Félix é, naturalmente, de aplaudir. E mais de aplaudir seria, ainda, se tivesse sido feita há muito mais tempo. Mas aí, claro, teria sido necessário juntar ao desejo de contar toda a verdade, também a coragem de arriscar o lugar. E nos tempos que correm, sou o primeiro a reconhecer que já ninguém espera tanto de ninguém.


(*) dica do ContraFactos & Argumentos

Subsídios "amordaçados"

"só há liberdade a sério quando não há subsídio pelo meio"

Miguel Sousa Tavares, Expresso, 8 Julho 2006

Peço desculpa, mas discordo. Não basta atribuir um subsídio para impedir a "liberdade a sério". Se bastasse, Rui Rio, por exemplo, nunca se teria lembrado de "amordaçar" os subsidios a uma cláusula de "boa educação" (ou lá o que é...).

08 julho 2006

Ao que um automobilista está sujeito

"(...) os júris actuais não são muito bons em questões de causalidade. No Michigão, um homem ganhou recentemente um processo por danos substanciais porque, segundo afirmou, uma colisão na traseira do seu carro o tornara homossexual"

Simon Blackburn, "Pense-Uma Introdução à Filosofia", p. 114

06 julho 2006

Excerto de um livro não anunciado (324)

Destaquemos aqui como particularmente relevante para o estudo da persuasão o facto da atitude, segundo Petty e Cacioppo, aparecer ligada a um sentimento geral enquanto a crença se circunscreve, basicamente, ao domínio da informação. É que, à luz de tal distinção, forçoso será reconhecer que mesmo quando o interlocutor não põe em causa o carácter lógico e bem fundado da nossa argumentação, isso não significa, por si só, que venha a aderir efectivamente à proposta ou ideia que lhe apresentamos. Para além da mera concordância intelectual é preciso igualmente suscitar-lhe o agrado, um sentimento favorável que lhe permita remover sem dor ou com a menor dor possível a atitude que até aí vinha adoptando e que, a manter-se, inviabilizaria o sucesso do acto persuasivo. Esse é o “segredo” do persuasor que não se contenta com a modificação de uma crença e prossegue na sua argumentação até conseguir igualmente a mudança da própria atitude.

03 julho 2006

Cortesia forçada

"Com a introdução de uma cláusula de salvaguarda nos protocolos estabelecidos entre a câmara e as mais diversas entidades financiadas por esta, pretende-se, tão somente, alertar a instituição beneficiada para o seu dever de cortesia política e cívica (...)"

Rui Fernando da Silva Rio, Presidente da Câmara do Porto
(in Direito de Resposta, Público, 01 Julho 2006)


É caso para dizer que saiu pior a emenda do que o soneto. Gosto especialmente da parte em que Rui Rio diz que com a cláusula de salvaguarda, pretende "tão somente, alertar" quando, como se sabe, a referida cláusula é manifestamente penalizante para as entidades subsidiadas. Ora se o alerta vem acompanhado da sanção, para que serve afinal? A ideia que fica é a de que o presidente da Câmara do Porto pretende mas é fazer justiça em causa própria. Se assim for, não lhe gabo o gosto nem lhe reconheço o direito. Era só o que faltava que uma câmara (neste caso, o seu presidente) viesse agora limitar a liberdade de exercício da cidadania em matéria de cortesia (política e cívica). Por favor...

02 julho 2006

A retórica da credibilidade

A propósito do Expiação Mediática, do Paulo Cunha Porto:

Pelo que até agora se (não) sabe, o “só matei três vezes” do cabo da GNR de Santa Comba, tanto pode corresponder a uma deliberada intenção de enganar, como traduzir fielmente o que se passou. Certo é que nenhuma das hipóteses recai sobre a específica alçada da retórica. A primeira, porque como já aqui tenho defendido, não pode a disciplina abdicar da mais elementar exigência ética. O engano, o disfarce, a mentira e a manipulação não são propriedade da retórica nem com ela se ajustam mais ou melhor do que com qualquer outra perspectiva de (estudo do) discurso. Já a possibilidade do militar estar a “dizer a verdade”, não sendo ainda uma questão retórica strictu sensu, para a retórica nos remete, se o que estiver em causa for, sobretudo, a avaliação dos efeitos persuasivos de uma dada expressão ou estratégia comunicacional. Como é o caso.

Naturalmente que repugna à consciência comum ver alguém muito preocupado em repor a verdade quando se trata de apurar apenas se esse alguém matou ou não mais do que três pessoas. Há actos de natureza tão ignóbil que nenhuma precisão de grau parece fazer atenuar a sua censurabilidade. Mas já saber, por exemplo, se a afirmação “só matei três vezes” é (foi) ou não uma afirmação persuasiva, passa muito mais pela reacção do auditório mediático do que pela intenção do declarante ou da eventual força impressiva da respectiva expressão. É por isso, sobretudo por isso, que a retórica nenhuma conclusão garante (a não ser provisoriamente) e que as suas maiores conquistas devem ser encaradas sempre apenas como opiniões que vão resistindo ao sucessivo escrutínio crítico. Numa palavra, só o auditório é juiz (o que não significa que só o juiz tenha razão). Logo, se se quer conhecer a persuasividade de um argumento é preciso esperar pela sua prova de fogo, pelo momento em que lançado no debate, público ou privado, suscita um certo quid de adesão, de indiferença ou de rejeição. Até lá, não representa mais do que uma probabilidade de sucesso.

Como reagiu ou está a reagir o auditório mediático - cada vez mais coincidente com o espaço público – ao “só matei três vezes” do cabo da GNR? Faltam dados seguros. Mas à luz do ensinamento retórico, há, desde já, toda a legitimidade para fazer uma previsão: não só não terá persuadido ninguém quanto à pretendida relativização do mal que causou, como se arrisca a que ninguém acredite na sua afirmação, mesmo que de afirmação verdadeira se trate. É que de acordo com a tríade aristotélica ethos-logos-pathos, a eficácia da retórica ou argumentação persuasiva depende, em primeiro lugar, do carácter ou da credibilidade de quem tem a palavra. Ou seja, de pouco vale o que se diz e como se diz, se o auditório já está de pé atrás quanto à credibilidade do declarante. E, salvo melhor opinião, é esse o caso do militar de Santa Comba. Logo, a amplificação e a repetição mediática do “só matei três vezes”, ao invés de lhe criar uma favorável “auréola de coitadinho”, só o poderá descredibilizar. Ainda mais.

Foi esta noite

O fogo de S. Pedro, na Afurada, visto da Foz:


01 julho 2006

Penaltis e bolas fora

No final do 1. ª parte do prolongamento no Portugal-Inglaterra (TV Cabo), o comentador Tony (ex-jogador e treinador do Benfica), fazia esta "arriscada" previsão:

"Se nada acontecer na 2.ª parte, serão os penaltis a dedidirem este jogo"

E não é que acertou mesmo?
O que se aprende a ver a bola...