28 novembro 2006

Eu também vi

E não gostei que José Manuel Fernandes, director do Público, se tivesse apropriado da entrevista ao presidente da ERC para um público ajuste de contas. Por mais injustiçado que se sentisse, aquele não era o lugar nem o momento de tribunalizar o seu diferendo com a ERC, como certamente reconhecerá, agora, mais a frio. Aprecio muito o que escreve (mesmo quando dele discordo). Sou mesmo seu leitor diário. Mas manda a verdade reconhecer que ao "levar" a entrevista (que lhe competia conduzir) para um caso pessoal (e nele se deter demoradamente), saltou para o lado de fora do jornalismo. O que, num jornalista da sua craveira, é inadmissível.

Foi mesmo assim. E pior do que noticiar em causa própria é defendê-la, como o fez JMF.

27 novembro 2006

Provavelmente

"Tudo isto mostra que provavelmente Abel Mateus não brincou aos 'cow-boys em pequenino"

Henrique Granadeiro, da PT - Expresso de 25 Nov 2006

De onde se infere que Granadeiro, provavelmente, brincou. E não menos provavelmente tudo fica explicado: foi-se o cow-boy, ficou a linguagem.

Excerto de um livro não anunciado (351)

Estas adicionais respostas cognitivas auto-elaboradas (pensamentos) podem concordar com as propostas feitas pela mensagem, discordar ou serem inteiramente irrelevantes para a comunicação” (*). Por exemplo, quando o Primeiro-Ministro anuncia que vai aumentar os impostos para resolver a situação financeira da Segurança Social e garantir o pagamento de reformas mais dignas, as pessoas podem pensar para elas próprias: “Mas que excelente ideia! Até que enfim que vamos ter uma boa reforma!” ou “Que estúpido! Já pagamos impostos a mais!”. O que a teoria das respostas cognitivas sustenta, é que este tipo de cognições eleitas pela pessoa no momento em que recebe a mensagem, determinarão a intensidade e a direcção da modificação de atitude produzida. Logo, na medida em que a comunicação evoque respostas cognitivas de apoio (pró-argumentos ou pensamentos favoráveis), a pessoa tenderá a concordar e a aderir ao conteúdo da mensagem. Se tais respostas cognitivas forem antagónicas (contra-argumentos ou pensamentos desfavoráveis) a tendência será para discordar da mensagem.

(*) Richard E. Petty e John T. Cacioppo, (1996), Attitudes and Persuasion: Classic and Contemporary Approaches, Oxford: Westview Press, p. 225


Coisas da blogosfera

É algo que me acontece pela segunda vez: as visitas aumentaram mais de 40% durante esta última semana em que não deixei aqui uma única palavra. Não tem qualquer importância, claro, mas não é um pouco esquisito que tenha mais audiência quando estou ausente do que quando escrevo? Até estou com receio de retomar os posts...

17 novembro 2006

Público abuso do poder

Ainda no rescaldo desta insólita reacção de José Manuel Fernandes, director do Público, a uma determinação da entidade reguladora (ERC), logo aqui anunciada, atente-se na acertada crítica de Luis Santos que só agora detectei nos "comentários" do Jornalismo e Comunicação:

"Que [José Manuel Fernandes] se tenha aproveitado da posição de privilégio que tem - a de poder decidir o que vai escrito numa página do jornal - para 'fazer peito' é indefensável. JMF abusou do poder que tem e assim deu mais força a quem defende que o jornalismo nacional nao consegue auto-regular-se."

Excerto de um livro não anunciado (350)

Quanto à estratégia das respostas cognitivas ela centra-se ainda no receptor e nos processos cognitivos que fazem a mediação das suas reacções às comunicações persuasivas. Está agora em foco o papel do pensamento no processo de persuasão e na modificação da atitude. O pressuposto-base desta estratégia é o de que os pensamentos que as pessoas elaboram por si mesmas podem ser tão ou mais efectivos na produção de uma mudança de atitude do que as próprias mensagens que lhes chegam do exterior. O processo é descrito deste modo por Petty e Cacciopo: “quando uma pessoa antecipa ou recebe uma comunicação persuasiva, tenta relacionar a informação contida na mensagem (ou na esperada mensagem) com o conhecimento pré-existente que ela tem acerca do assunto em causa. Ao fazer isto, estará a considerar uma substancial quantidade de informação que não se encontra na comunicação em si mesma.

15 novembro 2006

Oui, Paris: je t'aime

Mesmo quando se trate de Paris, nenhum filme tem propriamente que fazer a promoção turistica da cidade onde foi rodado. Mas também não precisa de a pintar como realmente não é: uma cidade sombria, sem chama e sem vida, que mais parece um dormitório de indigentes ou de vencidos pelo destino. Foi assim que vi o "Paris, je t'aime", a que fui atraído pelo seu enganador título (duvido que alguém amasse a Paris que é mostrada nesta "amálgama" de filme). Sim, é verdade (não tenho mesmo emenda) também fui na fita das elogiosas apreciações da Crítica. O certo é que entrei na sala para ver um filme e deparei-me com uma manta de retalhos mal alinhavados: umas cenas daqui, outras dali, mais algumas de acolá, sem nexo e, sobretudo, sem invenção. Então aquela peregrina ideia de juntar dois "pedaços" de filme com a mesma "password" para o amor (o "casual" desmaio feminino) não estava mesmo no (meu) programa. Mas que um filme dê para o torto, ainda estou como o outro. O que mais me custa é ver como sai tão mal retratada a Paris dos meus olhos. Ainda bem, por isso, que Eduardo Pitta fez o mais oportuno dos avisos:

Quem conhece Paris, sabe que Paris é a cidade. Mas essa cidade não passa aqui. Quem não conhece, e for ver este filme, tem a tentação de adiar a viagem sine die.

14 novembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (349)

E Festinger sugere três modos possíveis de se reagir à dissonância: primeiro, a pessoa muda um dos elementos para tornar os dois elementos mais consonantes. Por exemplo, o fumador que toma consciência de que o fumo prejudica gravemente a saúde pode parar de fumar e assim, mudando o elemento comportamental, elimina a dissonância entre as cognições de conhecimento "eu fumo para gozar a vida" e "fumar pode causar-me a doença e uma vida miserável". Sabe-se, contudo, como em muitos casos as pessoas experimentam sérias dificuldades em alterar este elemento do comportamento. Segundo, a pessoa pode reduzir a mesma dissonância, pela adição de cognições consonantes. É o caso do fumador, que a despeito da evidência de que o fumo provoca graves doenças, resolve fazer uma pesquisa de informação que ponha em causa a validade científica dessa conclusão. Por último, a pessoa pode reduzir a dissonância cognitiva relativizando a importância de tais cognições, como o faz o fumador que se convence a si mesmo de que o prazer que o cigarro lhe dá é muito superior ao risco que constitui para a sua saúde. Estes são os três modos que, segundo Festinger, levam à redução da dissonância. Resta dizer que, em princípio, será seleccionado aquele que menos resistência oferecer à respectiva modificação de atitude.

13 novembro 2006

A loucura da guerra

Dá que pensar o email que a 22 de Junho deste ano, Robert Secher, capitão dos Marines em missão no Iraque, dirigiu ao seu pai, a propósito de dois grupos de fuzileiros que foram acusados de assassínio. O meu destaque vai para esta passagem:

"Olá , Pai, depois de ler o meu último 'e-mail', não quero que penses que eu tolero as acções dos fuzileiros e se na verdade forem culpados, devem ser responsabilizados e punidos. A minha intenção foi dizer que esta é a realidade da guerra. Isto é o que a guerra faz a jovens normais. Isto é a tragédia da guerra. As pessoas apressam-se a criticar os fuzileiros e a demonizar estes jovens. Eu tenho pena deles. As suas vidas foram arruinadas pelas suas acções, que são julgadas por homens que nunca estiveram nessas situações"

in Expresso, 11 Nov 2006

Retenho estas últimas palavras de Robert Secher: "acções, que são julgadas por homens que nunca estiveram nessas situações". Que nunca estiveram na guerra, portanto.

Não é fácil falar da guerra sem a ter vivido. Não é fácil mesmo para quem por lá andou. Porque a guerra, toda a guerra, é a desumanização em pessoa. É uma ruptura na humanidade do guerreiro. Que o descaracteriza, que lhe rouba a identidade, que diminui a sua autonomia moral. Pode não beliscar quem a ordena, mas sempre animaliza quem a trava. Numa luta de vida ou de morte, nem o imperativo da causa nem o instinto de sobrevivência consentem a mínima garantia ética. E depois, a sociedade não pode exigir o mínimo respeito pelo outro, a quem treinou para matar. A guerra é a maior loucura do homem. Daí que, talvez só um louco, verdadeiramente louco, a pudesse julgar.

Retórica em congresso

xxxxx
Esta semana, de 15 a 18, terá lugar em Sevilha o IX Congresso IBERCOM - “El espacio Iberoamericano de comunicación en la era digital” no qual participo com a comunicação "A Retórica na Sociedade Mediatizada". Quem estiver para aí virado encontrará aqui o Abstract e logo decidirá se ainda fica com pachorra para ler o texto completo. Eu pensaria duas vezes.

A volta ao mundo em 8 minutos

ou o muito saudado regresso de

"O que senti foi um reencontro: Ah! Cá está ele! É mesmo isto! Mas estou com a sensação de que está a pedir mais. Espero que volte um dia a uma manhã da rádio, como merece. Ninguém faz rádio daquela maneira"
Paulo Alves Guerra, da Antena 2

[Sena Santos consegue reunir] "a espontaneidade do improviso
com a economia das palavras, num equilíbrio único"
Carlos Vaz Marques, TSF

"Ele é uma figura marcante da informação de rádio em Portugal"
José Fragoso, TSF

[É] "a principal figura da rádio de informação nos últimos dez anos"
Luís Osório, Media Capital Rádios

"O Francisco Sena Santos é o exemplo do que de melhor a rádio teve e tem"
Maria Flor Pedroso, Antena 1

"Há sempre algo a aprender na forma como ele conta as histórias. Temos todos muito a ganhar com o regresso dele"
José Guerreiro, Antena 1

---------------------------
Cf. Público, 09 Nov 2006
---------------------------

Acesso aos podcasts de Sena Santos

12 novembro 2006

Não perca


"Não perca" - ironizava o Publico do passado dia 9, a propósito da repetição (no dia seguinte) do direito de resposta a Rui Rio, que lhe fora determinado pela ERC.

Onde já se viu uma coisa destas? "Nunca" - reconhece
João Paulo Meneses que, perante o que só não vê quem não quer ver, escreveu bem e depressa: Público goza com a ERC. Já o Jornalismo e Comunicação está a dar um excelente tratamento noticioso ao assunto fornecendo, inclusive, pistas para a sua eventual conferência e aprofundamento, mas, até agora, sem qualquer indicação opinativa, se exceptuarmos o próprio título deste post de Madalena Oliveira.

Li os textos que havia para ler: a notícia do Público , a primeira publicação do direito de resposta de Rui Rio, a reclamação deste para a ERC e a deliberação desta última, mais o anúncio-resposta do Público, a republicação do direito de resposta, a interpretação que José Manuel Fernandes deu à deliberação da ERC e o comunicado desta última. E concluí que:

O Público errou.

O que está em causa é avaliar se o Público respeitou ou não as disposições legais em matéria de direito de resposta. Ora a ERC é a entidade a quem cabe apreciar e decidiu que não. O Público não tinha que aceitar a decisão de braços cruzados, se dela discorda. Mas sempre deveria ter dirigido a sua argumentação contra as razões invocadas pela ERC em vez de aproveitar o ensejo para lançar um gratuito ataque contra esta última, que é o que faz quando, em editorial, refere a ERC como "órgão que nasceu sob suspeita e controvérsia e, pelos vistos, delibera de forma a dar razão aos que criticaram o seu estatuto e poderes". Isto é puro ad hominem na sua mais falaciosa expressão. O problema é que, regra geral, o recurso a este tipo de argumento indicia que faltam razões para contrapor aos bons argumentos do adversário.

Ainda na esfera do ataque pessoal e/ou institucional, alega também José Manuel Fernandes que "a ERC entendeu-se competente para dar opiniões sobre o grafismo do jornal, intromissão que consideramos absolutamente abusiva". Mas parece haver aqui um certo equívoco. Não é sobre o grafismo do jornal que a ERC dá opiniões mas mais exactamente sobre os requisitos a que deve obedecer a publicação de um muito concreto direito de resposta e fá-lo, na esfera da sua específica competência. O Público, mais uma vez, deslocou aqui a questão para a desqualificação da ERC quando o que lhe competia era, discordando, provar que as afirmações da entidade reguladora não são verdadeiras.

Provar, por exemplo, que não é verdade que, no caso em apreço, "a indicação legalmente exigida (nos termos do n.º3 do art. 24.º da Lei da Imprensa) de que o texto publicado se refere a um direito de resposta, é feita [pelo Público] em moldes mitigados e secundarizados, do ponto de vista gráfico, relativamente ao título que efectivamente encima tal resposta (“Câmara do Porto impõe “lei da rolha”)". Ou então mostrar que, contrariamente ao que a ERC sustenta, não é "manifesta a desproporção existente relativamente às saliências conferidas a ambos os escritos, com evidente prejuízo para a chamada relativa ao exercício do direito de resposta".

Foi disto que o Público foi acusado, seria disto que teria de se defender. Mas naquela lógica excessiva de que "o ataque é a melhor defesa" o jornal recorre a um folclórico mega-anúncio da repetição do direito de resposta, com o que afronta em vez de argumentar. A bem dizer, levanta a voz ao juiz sem lhe questionar as razões. O que, em condições normais, seria muito estranho.

11 novembro 2006

Ela está entre nós


A tradutora deste famoso diálogo de Platão:
A Senhora Sócrates. Perdão, a Adriana Manuela Nogueira.

Público afrontamento

10 novembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (348)

Estudar a persuasão (e, desde logo, a persuadibilidade) em função da sua relação com a personalidade tem a vantagem de sublinhar a necessidade de se centrar a atenção no receptor quando o que está em causa é tentar perceber o que leva à modificação das atitudes. Mas a compreensão global dos mecanismos que asseguram tal modificação, requer a consideração de diferentes perspectivas de análise. Daí o recurso a outras estratégias de abordagem, como a estratégia da motivação e a das respostas cognitivas. Relativamente à primeira, o maior relevo vai para a famosa Teoria da dissonância cognitiva, de Festinger (1957), que procura dar conta do processo de modificação das atitudes, numa perpectiva internalista que vai muito para além das determinações da personalidade. Festinger descreve a dissonância como sendo essencialmente um estado de motivação que fornece energia e direcção ao comportamento. Não hesita por isso em fazer a analogia com o que se passa com a fome: “just as hunger is motivating, cognitive dissonance is motivating” (*). Isto é, a dissonância cognitiva faz aparecer uma actividade orientada para a redução ou eliminação dessa dissonância e o sucesso na sua redução ou anulação é a recompensa, no mesmo sentido em que o é, igualmente, o comer quando se está com fome. Dito de outro modo, se detectamos alguma incoerência nas nossas atitudes ou crenças ou comportamento, experimentamos um certo estado de dessassego (dissonância cognitiva) que se converte num impulso dirigido para a reposição do nosso equlíbrio psicológico. Logo, para reduzirmos ou anularmos essa dissonância cognitiva temos que fazer algo.

(*) Richard E. Petty e John T. Cacioppo, (1996), Attitudes and Persuasion: Classic and Contemporary Approaches, Oxford: Westview Press, p. 138

09 novembro 2006

Grandeza de princípios

Há já alguns meses escrevi:

Para atribuir um subsídio de 15.000 Eur à Fundação Eugénio de Andrade, o presidente da Câmara do Porto, Dr. Rui Rio, resolveu pôr uma condição por escrito: que ao menos publicamente, a dita Fundação não diga mal do Município ou, para ser mais exacto, que não diga nada que o Dr. Rui Rio possa considerar como ofensa ao bom nome e à imagem do Município do Porto.

Além de, desde logo, ter condenado tão infeliz iniciativa do Presidente da Câmara, acrescentei:

Não se conhece ainda a posição do presidente da Fundação, Professor Arnaldo Saraiva (a propósito, porque não foi interpelado pela jornalista do Público?)

E não se conhecia mesmo. Os meses passaram e perante o silêncio do Presidente da Fundação confesso que cheguei a convencer-me de que se tinha conformado com a respectiva cláusula restritiva.

A boa notícia, porém, chegou-me através do Público da passada segunda feira:

"A Fundação Eugénio de Andrade /FEA) recusou o subsídio de 15 mil euros que o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, fez aprovar pelo executivo, no final de Junho passado (...) Arnaldo Saraiva esperou até agora que Rui Rio reconsiderasse os termos da cláusula que impede a fundação de criticar o município"

Muito bem. Muito bem, principalmente, por duas razões:

1) Por não ter pactuado com a excessiva e pouco democrática restrição que Rui Rio queria impor (e que a ser aceite poderia, como mau exemplo, passar a funcionar em favor da posição da Câmara).

2) Pela serenidade com que deu tempo e possibilidade a Rui Rio para reconsiderar, se fosse caso disso.


08 novembro 2006

Olha que novidade

Que a Associação Portuguesa de Bancos discorda do aumento da carga fiscal, pode-se ler aqui. Olha que novidade. Ele há notícias que só são notícias por terem sido publicadas.

06 novembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (347)

O modelo de personalidade e persuadibilidade de McGuire permitiu também associar positivamente a auto-estima com a recepção da mensagem e negativamente com a anuência à modificação que a mesma sugere ou propõe. As pessoas com baixa auto-estima seriam por isso menos propensas a prestar atenção e a apreender os conteúdos da mensagem, mas, por outro lado, mais susceptíveis à comunicação persuasiva. Nisbett e Gordon (*) definiram mesmo uma relação entre a auto-estima e a modificação de atitudes com base na maior ou menor dificuldade de compreensão da mensagem, nos seguintes moldes: quando a mensagem é simples, as pessoas com moderada auto-estima mostram a maior modificação de atitude, mas quando a mensagem é complexa a maior modificação de atitude pertence às pessoas com alta auto-estima. Trata-se porém, uma vez mais, de uma indicação a seguir com alguma prudência, tanto mais que surgiram, entretanto, alguns estudos obedecendo a diferentes orientações teóricas, que vieram pôr em causa qualquer distinção dos efeitos persuasivos em função da compreensibilidade da mensagem.

(*) Richard E. Petty e John T. Cacioppo, (1996), Attitudes and Persuasion: Classic and Contemporary Approaches, Oxford: Westview Press, p. 82


05 novembro 2006

JN ainda sem provedor

O que disse o interlocutor

Por uma vez tenho a rara possibilidade de acrescentar algo ao que o maradona tão bem escreve. Segue [entre parêntesis]:

se há coisa que devia prevalecer sobre tudo o resto neste [e em qualquer outro] debate é o "importa-se de explicar isto tal e tal melhor?", em vez do mais habitual "o que ele queria mesmo dizer com isto era tal e tal.

Isto, claro está, partindo do princípio de que a réplica tem que ter alguma coisinha a ver com o que o interlocutor efectivamente disse.

04 novembro 2006

Só faltou chamar-lhe santinho

O que é que um jornalista realmente pretende dizer quando escreve:

Católico praticante? E depois? Porque é que o credo religioso do homem veio à baila? O que é que isso explica? Será que é por ser católico praticante que o dito treinador não entra em polémica? Note-se que não está causa o que o técnico do Benfica é ou deixa de ser mas tão só a responsabilidade jornalística de quem elabora a notícia. E convenhamos que, pelo menos no futebol, o facto do treinador ser católico e de até se chamar Santos, não faz dele nenhum santinho.

Onde há dois juristas há pelo menos três opiniões

ironizava, ontem (*), um magistrado com assento no Conselho do Ministério Público a propósito das "trapalhadas" e do diverso entendimento da letra da lei que a recusa do vice-Procurador proposto tem suscitado. E isto, imagine-se, tudo ao nível de algumas das nossas maiores sumidades em Direito. Sucede que se para elite jurídica tais divergências traduzem apenas uma louvável afirmação do pluralismo de opiniões, já ao nível do cidadão comum causam, sobretudo, perplexidade e insegurança (no Direito). Perplexidade e insegurança que mais tarde ou mais cedo levarão à relativização da lei, da credibilidade de quem tem por missão aplicá-la e, por inerência, das próprias instituições judiciais. O problema não está, pois, no facto do dito magistrado ironizar. O problema é que cada vez mais portugueses dizem o mesmo, sem qualquer ironia.

(*) in Público, 03 Nov 2006

Lavar as mãos

Segundo o Público de hoje, João Correia, advogado e membro do Conselho Superior do MP que votara contra Mário Gomes Dias na primeira reunião electiva, recusou-se ontem a votar por entender que o mesmo nome não poderia ser de novo levado a escrutínio. A bom rigor, e pelo que já dei a entender no post abaixo, a sua justificação parece-me mais do que aceitável. Mas se o que estava em causa era a eventual ilegalidade da votação, na prática, também com ela acabou por se conformar quando anunciou que não a iria impugnar. Ainda bem que há um título para tudo.

Três vezes um

Se o Estatuto do Ministério Público estabelece que para eleição do Vice-Procurador podem ser apresentados três nomes, sendo o último obrigatoriamente aceite para evitar o vazio de poder, a interpretação (vencedora) de que tal equivale à mera apresentação do mesmo nome por três vezes não será um bocadinho rebuscada? Vá lá, é só um bocadinho...

03 novembro 2006

O sinal

Futebol ou bruxedo?

Quando dois treinadores de futebol que são excelentes pessoas - como é o caso de Fernando Santos e de Jesualdo Ferreira - conseguem adivinhar, antes do início do jogo, que vão ficar sem um jogador (por expulsão ou entrada maldosa do adversário, tanto faz) o que não adivinhará um treinador que em vez de boa pessoa for só uma pessoa assim-assim?

A mensagem do meio

Foi demorada mas, como sempre, também muito informativa a conversa que mantive nos últimos dias com o meu amigo Aristóteles. Falei-lhe da modernice dos nossos actuais meios de comunicação, do modo como influenciam o discurso, nomeadamente, o retórico. Mas por mais que lhe enunciasse as novas maravilhas tecnológicas, não chegou nunca a mostrar-se verdadeiramente entusiasmado. Novas maneiras de fazer a mesma coisa, resmungou: "comunicar, persuadir, convencer". Que o meio é tão mensagem, como o são o modo, o ritmo, o tempo e a sequência do mostrar ou dizer, observou. Como o assunto que se comunica e tantas outras coisas que metem a colherada no resultado ou efeito final da comunicação. Também na comunicação persuasiva. Encostado à parede, defendi-me como pude. Sugeri, pouco polidamente, é certo, que a comunicação mediática não cabe na sua noção de auditório, que não podemos confundir as antigas multidões com as actuais "massas" e que, comparativamente, a audiência é um salto no escuro. Com um sorriso meio reprovador, fez-me ver que não é bem assim e prometeu voltar para me explicar tudo muito direitinho. Como se eu fosse muito burro. É capaz de não ser má ideia, ó Grande Filósofo. E já agora, o jantar estava óptimo. Mas para a próxima pagou eu. Certo?

Excerto de um livro não anunciado (346)

Se a primeiras destas duas explicações nos parece ter entretanto perdido grande parte do seu sentido, face ao cada vez maior esbatimento das diferenças sexuais na socialização actual, já no que se refere à segunda, parece ser inquestionável a sua pertinência, por radicar num factor extremamente importante e decisivo em qualquer processo de persuasão: o grau de relevância pessoal que o assunto em questão possa ter para a pessoa a persuadir. Em todo o caso, trata-se de um factor que está presente em todos os actos persuasivos, independentemente dos seus destinatários poderem ser homens ou mulheres. Logo, apesar deste indicador centrado na maior ou menor relevância do tema se revestir de muito interesse para a compreensão e até para a operacionalização do processo persuasivo, a questão essencial das eventuais diferenças de persuadibilidade em função do sexo, permanece, contudo, em aberto.