30 setembro 2008

Ó da Guarda!


Foi ontem, 29 de Setembro de 2008, na Rotunda do Largo dos Aviadores, em Vila Nova de Gaia.

Ao princípio da tarde, o condutor Marcos Oliveira (de seu nome real) é mandado parar numa Operação Stop por um senhor agente que lhe pede de imediato os documentos. Marcos exibe a carta de condução, o livrete, a ficha de inspecção obrigatória e a carta verde. No exame de cada um dos documentos, o senhor agente acaba por se deter bastante mais tempo na carta verde. E já se vai perceber porquê. Olhem só que conversinha:

Polícia:
Não sei se já reparou mas o seu seguro termina amanhã.

Condutor:
Eu sei, senhor agente. Até tenho aqui o aviso da seguradora para não me esquecer de ir pagar.

Polícia: (olhando pra o aviso)
Ah... mas o seu seguro está muito caro!

Condutor:
Está?

Polícia:
Está! Eu faço-lhe isso muito mais barato.

Condutor:
É que eu so tenho carta de mota há 1 ano. É por isso que é mais caro.

Polícia:
Mesmo assim eu faço-lhe o seguro muito mais barato. Quer?

Parece-me que o polícia não foi, afinal, tão persuasivo como gostaria, pois o Marcos Oliveira preferiu manter o seguro no seu agente a ter que se entregar... a um polícia. Mas a avaliar por este episódio quase delirante, talvez que a vida comece a estar má para os nossos melhores humoristas. Se a própria realidade já se mostra tão cómica, quem se vai contentar com um mero sketch?

29 setembro 2008

Que Público é este? (2)

(para ler, clicar sobre o texto)
Esclarecimentos do Director do Público, quando confrontado pelo Provedor do Leitor sobre as questões que aqui coloquei.

26 setembro 2008

Indústrias da persuasão

A publicidade, o marketing, as relações públicas são as herdeiras da antiga retórica, da arte de persuadir. A persuasão tornou-se um dos maiores negócios da actualidade, envolvendo somas astronómicas de dinheiro. A informação em jornais, rádios e televisões vive da publicidade e o Google vive da publicidade. Com a internet móvel teremos a publicidade a toda hora em todos os lugares.

Os oradores exercem a persuasão em pequena escala. A persuasão em larga escala é tarefa dos profissionais das agências de comunicação, de relações públicas e de publicidade. São eles que entendem o funcionamento e a lógica dos média. É que hoje não há persuasão pública sem o recurso aos meios de comunicação de massa. A eloquência de Barack Obama de pouco ou nada serviria se não fosse sustentada por campanhas mediáticas de milhões e milhões de dólares.

Vivemos sob o signo da persuasão em modo industrial.

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24 setembro 2008

E não há quem ponha cobro a isto?


Registo trágico-cómico do diálogo telefónico (a que acabo de assistir) entre um dos mais conceituados bancos da nossa praça e um seu cliente:

Funcionário do banco:
Bom dia, o meu nome é (fulano), do banco (tal e tal) do balcão X. Estou a telefonar-lhe para informar que temos aqui um crédito pré-concedido até € 15.250,00 a 5 anos, pela prestação mensal de € 444,21.

Cliente:
E qual é a taxa que estão a aplicar?

Funcionário do banco:
Ah, eu a isso não lhe sei responder. Eu vejo aqui escrito 12%, mas não sei se será isso. Sabe, é que eu não sou da banca, não percebo nada disto.

Cliente:
E então como é que o senhor está aí?

Funcionário do banco:
Eu só estou aqui até ao fim do mês. Estou só a fazer um estágio.

Eu sei que a realidade se parece cada vez mais com a ficção. Mas desta vez, não tive dúvidas: o cliente estava mesmo ao meu lado e em alta-voz.

20 setembro 2008

Distracção Popular

Razão tem Sebastião Lima Rego:

- como é que durante todo um ano, ninguém se deu conta de que Nobre Guedes já não era vice-presidente do PP?

Será que o homem não fazia mesmo falta nenhuma?

15 setembro 2008

Os seus documentos, senhor condutor

E o senhor condutor trazia tudo e tudo exibiu: bilhete de identidade, livrete, registo de propriedade, carta verde, ficha de inspecção. Aliás: tudo menos a carta de condução que por esquecimento ficara em casa. Nada que não se resolvesse: "vou-lhe passar uma guia para no prazo de 8 dias apresentar a sua carta na esquadra mais próxima".

Foi anteontem à noite, pelas 21 h, no centro de Vila do Conde. Operação Stop ou lá o que era pois em tempos de tanta insegurança na estrada e fora dela, estranhei que não me tivesse sido pedido para soprar ao balão (era hora de jantar) nem me revistassem o carro. Posso estar errado mas pareceu-me que o senhor agente se deu por satisfeito logo que descobriu uma transgressãozinha do senhor condutor. Uma falta de documentos, mais 30 euros para o erário público (supõe-se) e, sobretudo, uma "prova" de que o senhor agente não brincou em serviço.

Ali ao lado mais duas bombas de gasolina assaltadas à mão armada. Mas... grande azar: a GNR estava ali, dentro da cidade e em local bem iluminado, entretida na caça à multa por falta de documentos. Contei três veículos militares e aí uns seis agentes, devidamente mobilizados. É claro que a GNR não pode estar em todo o lado, principalmente se estabelece este tipo de prioridades de serviço, preferindo controlar "perigosos" condutores em passeio do que, por exemplo, vigiar, descobrir e perseguir os "exemplares" cidadãos que apontam uma arma ao infeliz "caixa" de uma gasolineira.

"Tenho alguma coisa a pagar, senhor agente? "Agora não. Agora só tem que ir à esquadra mais próxima, no prazo de 8 dias, mostrar a sua carta de condução. Depois fica a aguardar a notificação para pagar uma multa de 30 euros", respondeu o solícito senhor agente que se limita a cumprir as ordens que recebe. Vá lá, 30 euros, podia ser pior. Vou pagar a multa pois circulava, inequivocamente, em infracção. Mas não contestando a multa sempre direi que esta infracção já não se usa e não liga nada bem com o país tecnológico que o senhor engenheiro nos prometeu já que, como é sabido, bastaria ao senhor agente ter com ele um qualquer computador (já para não dizer um simples telemóvel) ligado ao respectivo banco de dados para apurar, na própria hora, se eu possuo ou nao carta de condução legal e em vigor. Se bem que seria menos romantico. Não teria por exemplo de esperar, como esperei, por mais de 15 minutos, que o senhor agente preenchesse com letra de forma, a guia que tenho de apresentar na esquadra ao mesmo tempo que a carta de condução. Sim porque um mal nunca vem só, não é verdade?

13 setembro 2008

O homem.com medo de si próprio (7)


A primeira das técnicas: a magia

Durante uma grande parte da sua história, a humanidade não dispôs de mais do que recursos técnicos muito modestos, apesar de corresponderem a invenções altamente engenhosas para a época. Que razões terão estado por detrás deste marcar passo? Eis a questão que Gehlen chama a si próprio para lembrar que durante milhares de séculos o homem de todas as culturas primitivas e de todas as altas culturas como a egípcia, a grega e a romana, estava preso a uma outra ideia muito diferente que era a da possibilidade de uma técnica sobrenatural (aquilo a que hoje chamamos magia). E foi essa magia que desde as épocas pré-históricas ocupou um papel central na concepção do mundo e do homem, sobrevivendo sempre, inclusive, em ambientes adversos, como no caso das culturas monoteístas – tenha-se em vista os processos de bruxas e feitiçarias da Idade Média. Magia que, para Maurice Pradines, pode ser definida como “tentativa para produzir alterações que beneficiem o homem, desviando as coisas dos seus caminhos próprios para o nosso serviço” [15]. Ora, como se pode notar, esta é uma definição que não só abrange a magia como a própria técnica, ou, se quisermos, a técnica sobrenatural e a técnica natural.

Questão intrigante: o que explicará a extraordinária expansão da magia em todo o mundo e em todas as épocas? Gehlen limita-se a admitir que ela radicará em algo de antropologicamente fundamental, já que não se pode tirar outra conclusão quando continuamos a observar práticas mágicas perfeitamente estereotipadas, independentemente de raças e de graus de cultura. Por exemplo, o feitiço da chuva - a orientação ou provocação dos fenómenos meteorológicos - está presente tanto nos indígenas da Nova Britânia, como nos índios de Omaha, bantus das Delagoaba e nos chineses. Há aqui como que um recorrente arcaísmo do pensamento que se tem mostrado verdadeiramente irredutível, mesmo quando confrontado com o assombroso desenvolvimento das mais modernas tecnologias.

Aliás, é o próprio desenvolvimento das tecnologias que acaba por conduzir a questões de ordem mítica que reaparecem hoje com mais força do que a que tinham antes. Compreende-se, por isso, a muito actual observação de Marc Augé: “Definimos, por vezes, a modernidade como a passagem dos mitos de origem aos mitos do futuro, aos mitos escatológicos, a imagens radiosas, ao progresso. Agora, com o desenvolvimento da tecnologia, colocamos questões às quais o pensamento mítico (para não dizer simbólico), aquele que se exprime pelos mitos, de alguma maneira pré-simbólico, dava forma. A versão agradável ou banal desta questão é-nos dada pelos filmes de ficção científica. Muitos só imaginam o futuro tecnológico sob a forma de coisas mais arcaicas”
[16]. [Cont.]
__________
[15] Cit. ibidem, p. 23
[16] Atlan, H., et al (2001), CLONAGEM HUMANA, Lisboa: Quarteto Editora, p. 143

in Américo de Sousa (2004), O homem com medo de si próprio, Porto: Estratégias Criativas, pp. 19-20


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07 setembro 2008

Que Público é este?

(Clique sobre as imagens para ler mais facilmente)

Que Público é este em que uma qualquer mão invisível se acha no direito de "à surrapa" acrescentar por sua auto-recreação um comentário ao texto da notícia já elaborada pela jornalista? *

Que Público é este onde, em manifesta fraude autoral, um comentário anónimo surge entre o texto e a assinatura da jornalista (T. S.) como se fosse da responsabilidade desta última?

Que Público é este onde o aludido comentário, de tão despropositado, leva a própria jornalista a dele se demarcar "Publicamente" na edição de hoje (e, até a pedir desculpas, ainda que totalmente alheia à inqualificável manipulação)?

* À atenção do Sr. Provedor do Leitor do Público.
==== Ver também no Câmara Corporativa de Miguel Abrantes ====

05 setembro 2008

A "apanha" da cocaína

Quando leio que, numa só operação, a PJ "apanhou" cem mil doses de cocaína, a primeira interrogação que me vem à mente é: quantas mais não terão ficado por apreender? Porque ressalvando-se o inquestionável mérito da PJ (que, contudo, não pode nem deve ser medido pela quantidade de doses apreendidas) bem mais interessaria ao cidadão normal ficar com uma noção da quantidade de droga que continua a circular no país. Não sendo isso, para já, possível, dê-se, ao menos, tanto relevo ao combate que se vai fazendo, como ao que ainda falta fazer.

Uma diplomacia (muito) responsável


Neste tempo de crise e de guerra, aplausos para a posição assumida pelo Governo português, com especial destaque para as muito sensatas declarações que o ministro dos negócios estrangeiros vem proferindo. Já se tinha notado aqui. Mas agora ficou ainda mais clara a sua vocação pacificadora. São pequenos gestos como estes que enobrecem a diplomacia e dela fazem a mais racional linha de defesa contra a ameaça global.