31 outubro 2008

O vendedor de Magalhães

Estou a ver na Sic Notícias a reportagem de uma certa reunião internacional em que aparece um senhor bem engravatado a fazer insistente propaganda ao pequeno computador portátil que tem na sua frente, já aberto. Fala como um autêntico vendedor. E remata que o aparelho é o perfeito computador ibero-americano pois até se chama Magalhães e tudo. Olho os figurantes que o ladeiam e julgo perceber sinais de algum embaraço com tão descarado reclamo. Mas talvez que a coisa não seja assim tão insólita. Se há vendedores que parecem primeiros-ministros, porque é que primeiros-ministros não podem parecer vendedores?

Actualização:

Sócrates também é o novo "homem da Regisconta", agora transformada no "moderno" Magalhães
João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos, 30.10.2008

Direcção comercial de luxo
Jorge Miranda, Blasfemias 31.10.2008

fez uma promoção entusiasmada do portátil produzido pela JP Sá Couto
Diário de Notícias, 31.10.2008

Sócrates tranformou-se em «promotor de negócios extraordinário
Portugal Diário, 01.11.2008

Eu tinha vergonha de lá estar
Pacheco Pereira, Público, 01.11.2008

(Via PortugalDiário)

23 outubro 2008

A Grande Retórica

Tem 3 minutos?

Se tem, convido-o(a) a escutar este excelente "Virus" de Pacheco Pereira no Radio Clube. Depois da grande retórica de Martin Luther King, a grande retórica de Barack Obama. A voz colocadíssima, o ritmo, a pausa e a prosódia certos, as metáforas mais persuasivas, a palavra inspirada - tudo na oratória de Obama parece estudado ao milímetro para passar com distinção no derradeiro exame eleitoral. Mas isso é o que logo se verá. Por agora, o que não escapa a ninguém é o modo retoricamente brilhante como Pacheco Pereira "diz" a comparação de Obama a Luther King e os situa numa tradição oratória comum. Grande "Virus".

19 outubro 2008

A retórica dos quadros que o sol pinta

Hoje, ao final da tarde, em Bayona-Espanha

16 outubro 2008

O homem.com medo de si próprio (8)

No mesmo sentido vão os numerosos relatos e documentos que atestam como o intuito predominante e central das práticas mágicas é a necessidade de assegurar a uniformidade do processo natural e de estabilizar o ritmo do mundo, face às naturais irregularidades e excepções. Tudo isso parece ilustrar até onde vai o interesse humano pela uniformidade do processo natural. O que está aqui em jogo é uma necessidade instintiva de estabilidade do mundo ambiente, sendo que, “numa realidade submetida ao tempo e necessariamente mutável o máximo de estabilidade consiste numa automática e periódica repetição do idêntico, tal como aproximadamente se manifesta na natureza” [17]. E sendo assim, é natural que na primitiva concepção da vida, privada que estava de qualquer espécie de conhecimento científico, o mundo (com o homem nele integrado) fosse visto como um processo cíclico, rítmico e automático, isto é, como um automatismo, aliás, animado. Quer isto dizer que as forças mágicas que faziam mover o mundo não eram arbitrárias nem emergiam espontaneamente, antes podiam pôr-se em acção devido à fórmula certa e rigorosamente repetida.

O que pode parecer estranho é como ainda hoje, apesar de toda a racionalização e da nova concepção científica do mundo, continuamos a poder encontrar na astrologia (e afins) um importante vestígio desta ideia arcaica e inata pois “grande parte da clientela dos astrólogos é constituída por numerosos financeiros e políticos que acreditam no prodigioso automatismo rotativo das estrelas e na sua necessária correlação com os destinos do indivíduo” [18]
. Faz todo o sentido, por isso, perguntar: até que ponto essa crença estará tão profundamente enraizada no homem para nele se manter, apesar de todos os desmentidos da razão?

Se alguma ideia se pode retirar daqui, é, seguramente, a de que a fascinação pelo automatismo constitui o impulso pré-racional e estratégico da técnica. Um impulso que se fez sentir primeiramente e durante milénios na magia (ou técnica supra-sensível) até encontrar nos tempos modernos a sua máxima concretização nos relógios, motores e máquinas rotativas de toda a ordem. Este “fascínio do automatismo de uma máquina é totalmente independente do seu rendimento: em grau mais alto, o que se pretenderia seria um perpetuum mobile cuja fidelidade e rendimento consistisse apenas na reprodução do próprio movimento giratório” [19]
.

Sucede que uma fascinação de tal natureza não pode ser simplesmente intelectual, tem de ter raízes mais profundas e, segundo Gehlen, constitui, por assim dizer, um fenómeno de ressonância. Constantemente aprisionado ao enigma da existência e do seu próprio ser, o homem tem de ir buscar a sua auto-interpretação a um não-eu, a algo diferente do humano. Assim, a sua auto-consciência é indirecta e o seu esforço por encontrar uma fórmula para si próprio decorre sempre em relação com o não-humano do qual se separa, em seguida. Ele sempre se sentiu muito impressionado pelos processos rítmicos e periódicos, quer se tratasse da rotação dos astros ou dos hábitos rotineiros e estereotipados dos animais. E isto não é de estranhar pois ele próprio é um automatismo: “é pulsação e respiração, vive dentro e por intermédio de automatismos rítmicos de apropriado funcionamento, tal como estão patentes no movimento do andar, mas sobretudo, na lide e trabalho das mãos, no ‘círculo de acção’ que, partindo da coisa para a mão e para os olhos, se fecha voltando de novo à coisa, em contínua repetição”[20]
. No fundo, fascina-o tudo quanto no mundo exterior de algum modo se assemelhe a essa estrutura própria. E ainda hoje, falar de curso dos Astros ou do andamento das máquinas traduz-se, ao fim e ao cabo, numa “objectivação por ressonância da auto-interpretação de determinados traços essenciais do homem” [21], pois este interpreta o mundo em função da imagem que tem de si próprio e interpreta-se a si, segundo as imagens que forma ou recebe do mundo.

_________

[17] Gehlen, A., (s/d), A ALMA NA ERA DA TÉCNICA, Lisboa: Livros do Brasil, p. 24
[18] idem
[19] ibidem, p. 25
[20] idem
[21] ibidem, pp. 25-26

in Américo de Sousa (2004), O homem com medo de si próprio, Porto: Estratégias Criativas, pp. 20-21

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13 outubro 2008

Uma Justiça de trazer por casa


É o que sugere o roubo do computador portátil de casa de uma procuradora da República. Por estas e por outras é que o seguro morreu de velho... mas o desconfiado ainda cá anda.

12 outubro 2008

Furacão no Expresso

No Suplemento de Economia do Expresso desta semana, Nicolau Santos abre a sua crónica (pág. 07) com uma excelente tirada metafórica:"Não é fácil, quando se está no meio de um furacão, acreditar que, por mais violento que seja, vai acabar por passar". Crente, como sou, logo creditei a Nicolau todo o engenho e autoria desta forma de ver a actual tempestade financeira. O problema é que, mais à frente, como se pode conferir na pág. 23 do mesmo suplemento, aparece António Borges a dizer praticamente o mesmo e em idêntico registo: "Quando se está no centro do furacão, é natural que se perca a lucidez". E lá tive que dar um passo atrás, para suspender o crédito que na minha boa-fé a Nicolau atribuira.

Objectivamente fico na dúvida quanto à autoria ou mera precedência na escolha do recurso estilístico em questão. Mas o facto de Nicolau Santos ser o Director-Adjunto do Expresso confere-lhe a possibilidade de ler os restantes artigos de opinião antes de elaborar o seu, possibilidade que não enjeita e, aliás, confessa quando escreve "Como diz Daniel Bessa nesta edição". No que faz muito bem.

Já não faria muito bem se "roubasse" as ideias e/ou expressões mais persuasivas desses textos a que só por força das suas funções no jornal tem acesso privilegiado. Ora se afastarmos a hipótese da mera coincidência (apesar de tudo, não negligenciável) temos que é Nicolau Santos quem pode ter sido "influenciado" pelo artigo de António Borges e não o contrário pois, em princípio, este último terá conhecido a crónica do Director-Adjunto somente após a sua publicação. Se a suspeita se confirma, ao "Como diz Daniel Bessa nesta edição" deveria Nicolau ter igualmente acrescentado: "Como diz António Borges nesta edição". E seria menos um habitual leitor a reclamar.

PS.-O bold nas citações é meu.

11 outubro 2008

Tão certo como dois e dois serem quatro

A eloquência económica:

"Pautar o comportamento pelo pânico, neste momento, é justamente provocar aquilo que se teme"
Vida Económica, 10.10.2008

09 outubro 2008

Retórica comicial

Completamente de acordo. O tom comicial pode ser persuasivamente o mais apropriado para animar as próprias hostes, para atiçar o ânimo dos que "já cá cantam", para agradar aos que já vêm pelo caminho a aplaudir o grande líder. Mas é um tom mais adequado aos "nossos", do que aos "outros", os que integram as bancadas da oposição e sobretudo, muitos dos que acompanham as transmissões pela TV (em directo ou em diferido). Estes "outros", não vieram para apreciar o espectáculo mas sim para escutar as razões e os argumentos do Governo. Estes "outros" têm também a noção de que o Parlamento nada ganha em se assemelhar a um Teatro, mesmo quando o primeiro-ministro figure à cabeça do elenco. É certo que por mais de uma vez, e em diversas bancadas, este ou aquele deputado leva a sua veia dramática ao ridículo, por vezes, mesmo à palhaçada. Mas daí até ver um primeiro-ministro cair na esparrela de os imitar, deveria ir maior distância, até porque, na medida em que os imita, perde toda autoridade para os criticar.

04 outubro 2008


Terminou hoje o colóquio internacional "Retórica e Argumentação no Início do Séc. XXI", na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ao qual, infelizmente, não pude assistir, mas estou seguro de que, com conferencistas desta qualidade, só pode ter sido um grande sucesso. Um grande sucesso para a Organização - que daqui saúdo na pessoa do meu ilustre amigo Rui Grácio - mas também para o avanço dos próprios estudos retóricos em Portugal.

De realçar que dos sete conferencistas portugueses presentes neste colóquio internacional, quatro eram membros do GT-Retórica a que tenho a honra de vice-presidir conjuntamente com a colega Ivone Ferreira e sob a presidência de Tito Cardoso e Cunha, o que, de alguma maneira ilustra a vitalidade teórica do próprio Grupo de Trabalho. Refiro-me aqui aos conferencistas António Fidalgo, Hermenegildo Borges, José Esteves Rei e Tito Cardoso e Cunha.

Entretanto, não estando ainda disponíveis os textos integrais, sempre se pode ir espreitando os respectivos "abstracts"".

02 outubro 2008

A hipérbole das hipérboles?

...esse submundo que é a blogosfera - diz António Costa.

in "Quadratura do Círculo", 02.10.2008

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submundo s. m.
* local ou meio onde se verifica a proliferação de actividades consideradas anti-sociais (criminalidade, consumo de droga, prostituição, etc. );
* conjunto de indivíduos marginais ou delinquentes enquanto grupo social organizado e que se movem e actuam nesse local ou meio.

hipérbole s. f.
* figura de estilo que consiste em engrandecer ou diminuir exageradamente a verdade das coisas.


(Dicionário Textos Editores UNIVERSAL)