30 dezembro 2008

Gente que já teve nome

Eu não sou dos prejudicados com esta situação. Não investi um cêntimo em acções do BCP ao preço de cinco euros com falsa informação prestada. Falsa informação que se diz ter sido do banco. Nada! O banco não é nada. É só um nome. Quem prestou falsas informações ao mercado, quem falsificou os balanços, foi gente de carne e osso. Que já teve nome.

A. Magalhães Pinto
in Vida Económica, 19 Dez 2008


22 dezembro 2008

Um espectáculo de sol do dia para a noite

Na Praia de Canidelo-V. N. Gaia, ontem, às 17h20:



21 dezembro 2008

Verso que nao rima

Passada quase uma semana so­bre a sua tão glosada interven­ção na Aula Magna, nem o pró­prio Manuel Alegre sabe ainda ao cer­to se defendeu ou não a criação de uma nova força política.

José António Lima, Sol, 20 Dez 2008

Veja-se só até onde pode chegar um verso que não rima.

09 dezembro 2008

O homem.com medo de si próprio (10)

É ainda possível detectar no homem um outro processo de diminuição de esforço, que se reveste, aliás, de importância capital: a tendência para criar hábitos, para formar rotinas, numa palavra, para automatizar o efeito. Ora é precisamente neste contexto que Gehlen defende que a técnica obedece, desde os seus princípios, a determinantes instintivas, inconscientes, vitais, identificando tais características humanas com o princípio da economia de esforço e a tendência para automatizar os efeitos, que se tornam responsáveis pela evolução da técnica. Não que uma qualquer invenção isolada delas derive directamente, pois, por exemplo, o funcionamento de um motor é explicado pelas relações puramente físicas e técnicas. Mas sem dúvida que é “a evolução conjunta da técnica que atesta uma lógica subjacente, inconsciente, mas coerentemente prosseguida, que só se pode descrever por meio dos conceitos da progressiva objectivação do trabalho humano e da crescente diminuição de energia dispendida” [25]. Trata-se de um processo geral que se desenvolve em três graus:

- Primeiro grau: o da ferramenta. É ainda o sujeito que emprega a força física necessária para o trabalho e o requerido esforço intelectual.

- Segundo grau: o da máquina de trabalho e energia. A força física é objectivada tecnicamente.

- Terceiro grau: o do autómato. O próprio esforço intelectual do sujeito é substituído por meios técnicos.

Em cada um destes graus dá-se um processo de objectivação para alcançar determinado fim através de meios técnicos, observando-se a cada vez maior autonomia destes, até que, no terceiro e último grau, esse fim se atinge simplesmente por intermédio do autómato, sem intervenção corporal ou intelectual. Naturalmente que esta fase de automatização é aquela em que a técnica atinge a sua maior perfeição metódica. E é também nesta fase – onde se conclui o processo evolutivo da objectivação técnica do trabalho (cujas origens remontam à pré-história) – que se pode situar a característica mais definidora da nossa época.

Logo se vê, portanto, que não é exactamente a mesma técnica que nos surge em cada um dos respectivos graus de objectivação. No primeiro grau, o da ferramenta, dir-se-á que estamos perante uma técnica artesanal, ainda definível como mero recurso a determinados instrumentos, cuja simplicidade de manejo chega e sobeja para produzir os resultados que se esperam. Já no segundo, o da máquina, a técnica começa a ter que ver com determinado conjunto de processos e metodologias que permitem a aplicação dos conhecimentos científicos quer na investigação, quer na transformação da própria realidade. Por último, o terceiro grau, marcado, como já se viu, pelo automatismo, é o que acabará por se identificar com uma noção de técnica mais actualizada, mais moderna e sofisticada: as novas tecnologias.

O que à primeira vista mais surpreende, porém, é o facto da técnica só muito tarde ter entrado nos domínios que durante milhares e milhares de anos estiveram reservados à magia, ou seja, à técnica sobrenatural, a qual, como se sabe, foi a que primeiro imperou nas épocas em que se conhecia apenas a primitiva técnica da ferramenta. Note-se, porém, que já essa magia pretendia desviar as coisas dos seus caminhos próprios para o nosso serviço, procurando, ainda que inconscientemente, potenciar a eficácia e multiplicar as zonas de alcance da acção da mão humana. [cont.]

[25] A. Gehlen, (s/d), A ALMA NA ERA DA TÉCNICA, Lisboa: Livros do Brasil, p. 28

in Américo de Sousa (2004), O homem com medo de si próprio, Porto: Estratégias Criativas, p. 23

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03 dezembro 2008

Com a verdade me enganas?

Em ocasional digressão pelo You Tube, chamou-me a atenção a retórica advertência deste "comercial" ou anúncio:

"É possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade"




A manipulação pela palavra, assente em ardilosas técnicas de enganar o próximo, dificilmente sobreviveria através dos tempos, como tem sobrevivido, se se valesse apenas de falsidades. Porque falsidades há que, de tão óbvias, nunca escapariam à atenção da mais desprevenida vítima. Daí que, não poucas vezes, o manipulador recorra às chamadas meias-verdades. Reduz assim o risco de ser desmascarado e, mesmo no caso de vir a ser descoberto, fica sempre com maior margem para engendrar uma qualquer escapatória. Basta-lhe, por exemplo, embrulhar a real intenção dolosa em mero acidente de discurso: distracção, confusão interpretativa ou até mesmo o desculpável erro.
Mas as meias-verdades deixam ainda metade da manipulação à mostra. O ideal será, por isso, manipular com a própria verdade, à custa da credulidade natural das potenciais vítimas.

O vídeo acima é um bom exemplo de como se pode mentir sem faltar à verdade, lembrando apenas os feitos positivos de quem foi, afinal, responsável pelos maiores crimes contra a Humanidade. E é essa possibilidade de uma manipulação com a própria verdade, de uma manipulação-limite, chamemos-lhe assim, que serve à risca o verdadeiro objectivo do anúncio, ao alertar para a necessidade de se tomar muito cuidado com a informação e o jornal que se lê. Preparado fica, então, o final para receber esta rara eloquência publicitária:

"Folha de S. Paulo: o jornal que mais se compra e que nunca se vende"

02 dezembro 2008

El Corte Inglés à portuguesa?

Desde há muito que aproveito este feriado do 1.º de Dezembro para dar uma saltada a Vigo. Depois que o El Corte Inglés veio para Gaia, as tradicionais compras de Natal são mero pretexto para dar um bom passeio, rever amigos espanhóis e atacar ao almoço uma bela "pierna de cordero" assada, regada por um digno rioja, no restaurante do El Corte Inglés. Uma vez mais, foi esse o meu programa de hoje. Entretanto, no final do repasto, aproveitei para tirar a dúvida: afinal, em Espanha, os grandes armazéns continuam a vender Coca-Cola. E quando contei ao chefe de mesa que me atendeu que o El Corte Inglés de Gaia tinha deixado de vender Coca-Cola, substituindo-a pela Pepsi, reagiu com indisfarçável ar de espanto: "não sei se isso seria possível aqui". Conclusão: tirei a minha dúvida mas fiquei com a dele. Será que o que temos por cá é um El Corte Inglés à portuguesa?