27 janeiro 2009

A retórica da verdade

A propósito de rankings, dizia já há dois meses atrás, a Dr.ª Manuela Ferreira Leite:

"Sobre esta matéria, não cito o caso do ministro das Finanças português que não escapou ao último lugar num conjunto de 19 ministros das Finanças de outros tantos países europeus"

Expresso, 29 Nov 2008

Estão a ver. Não cita, citando. Como quem diz que não diz o que está a dizer. Do ponto de vista retórico, nenhum reparo ao exercicio de estilo que pode até revelar-se o mais persuasivo. Mas a quem se anuncia como avessa à retórica e passa a vida a reclamar que se fale verdade, não lhe deveria soar a mentira o dar o dito por não dito?

26 janeiro 2009

Menos tempo e mais idade

Ainda a propósito do meu post anterior, vejo o Francisco a escrever exemplarmente - que de outro modo não sabe - sobre o que (se) passa para manter o blogue. Bem sei que é um retrato pessoal. Mas ainda bem. Fosse colectivo e talvez ficássemos todos muito parecidos:

"De modo que vou escrevendo; quando posso, quando tenho tempo, quando -- mesmo não tendo tempo -- invento tempo para não perder o blog. Já tive mais tempo disponível. Tenho menos. Tenho menos tempo e mais idade."

Menos tempo e mais idade. Será bom? Será mau? Seja qual for a resposta, vem a propósito lembrar que tanto se vive o dito como o que ficou por dizer. E mais não digo.

Pobre post

Já não aguento ver aquelas páginas amarelas no seu blogue - diz a minha amiga e leitora Verônica, de Porto Alegre. Assim como quem diz: vê lá se escreves mais qualquer coisinha. E eu sorri, tive de sorrir, durante a mais surda das interrogações: pensará esta gente que não tenho mais nada para fazer? Grande Verônica: a vida não é fácil. Principalmente para um pobre, se pobre for todo aquele que ainda precisa de trabalhar. Como eu. Até já, Verônica.

17 janeiro 2009

Mais amarelo do que as páginas



... fiquei eu quando topei com estas muito encolhidas Páginas Amarelas de Bolso, deixadas sei lá por quem à porta do meu escritório, sobre um desprezível chão que para ser pisado nasceu. É que nem o facto do reduzido tamanho e da própria configuração externa fazerem lembrar o clássico missal, lhes instilou a menor piedade. Piedade, já se vê, para com quem ouse consultá-las, pois mesmo depois de ter posto os meus melhores óculos de ver ao perto, ainda assim me senti visualmente agredido por todos aqueles minúsculos caracteres que terão por destino ser lidos. Por favor, senhores autores da pseudo-utilitária aberração: quem disse que o tamanho não é importante?

15 janeiro 2009

O estúpido e o perspicaz

Encontramo-nos, pois, com a mesma diferença que existe eternamente entre o estúpido e o perspicaz. Este surpreende-se a si mesmo sempre a dois dedos de ser estúpido; por isso faz um esforço para escapar à estupidez iminente, e a inteligência consiste nesse esforço. (*)

Ortega Y Gasset, (2007), A Rebelião das Massas, Lisboa: Relógio D'Água, p. 82

Esta é uma definição de inteligência discutível, como o são todas as definições. Ainda mais quando se recorre à comparação e/ou ao exemplo. Mas não deixa de ser muito engraçada e, provavelmente, mais eficaz e mais útil do que se fosse literal e cientificamente formulada.

Bem sei que a inteligência não consiste em qualquer esforço, antes pelo contrário: o esforço é que precisa de ser inteligente. Mas já nenhum detalhe pode ofuscar o brilho retórico de Ortega Y Gasset.

12 janeiro 2009

O homem.com medo de si próprio (11)


O advento do automatismo

Mas se a técnica chegou tarde a tais domínios, a verdade é que, pelo menos nos últimos tempos, o fez com uma pujança assinalável. Tudo começou com as incríveis novas possibilidades abertas pela automação, onde se objectiva o próprio ciclo de acção incluindo as funções intermediárias conscientes, de controlo e direcção. Como diz Gehlen, objectiva-se simultaneamente “a parte do processo vital fisiológico que funciona sob a forma de processos cíclicos sensório-motores e a outra de nível superior em que se produzem as regulações retransmitidas automaticamente, quimicamente, por exemplo” . Surgem assim os aparelhos de regulação técnica por transmissão, com base no princípio de que o sistema não varia o seu funcionamento por um comando exterior, mas sim, em função dos resultados obtidos. Trata-se de mecanismos concebidos para regressarem sempre a si próprios num ciclo fechado e calculados de tal modo que a corrente que atravessa todo o sistema é desviada numa ínfima parte para a regulação dessa mesma corrente de energia.

Gehlen acentua porém que este ciclo regulador não é apenas uma cópia do ciclo de acção, pois além das acções humanas, diz, existem em nós inúmeras regulações intracorporais obedecendo ao mesmo princípio estrutural, como no caso do sistema que regula a tensão sanguínea que é um ciclo fechado de acção regressiva. O ritmo respiratório, a concentração do sal, o doseamento do açúcar no sangue e a temperatura do nosso corpo, são apenas mais alguns exemplos dos inúmeros estados biológicos que obedecem ao mesmo princípio regulador.

Apesar de todas estas semelhanças entre o autómato e o orgânico, não se pode dizer, como adverte Gehlen, que o ciclo de regulação técnica permite conhecer a própria vida, nem subentender que esta última seja de natureza mecânica. Verifica-se tão somente a existência de uma isomorfia. Uma semelhança de formas, por certo, mas nenhuma igualdade substancial. O que se passa é que com o progresso da técnica o homem transfere para a natureza inanimada (aparelhagem técnica criada pelo próprio homem) um princípio de organização que já vigora em diversos pontos do seu organismo. E, como mais adiante se verá, a transferência deste princípio para a natureza inanimada e exterior ao homem, veio a revelar-se tão revolucionária e eficaz que acabou por se aplicar a ele próprio. Basta lembrar a série de extensões artificiais (próteses dentárias, oculares, mamárias, cardiológicas, locomotoras, etc.) que, cada vez mais, parecem aproximar o homem de hoje de um futuro homem protésico. É natural, portanto, que João Dias de Deus considere que “os nossos sentidos são hoje muito mais que os nossos sentidos: estão cheios de verdadeiros ‘implantes’ tecnológicos” [27] . (cont.)

___________
[27] J. D. Deus, (2003), DA CRÍTICA DA CIÊNCIA À NEGAÇÃO DA CIÊNCIA, Lisboa: Gradiva, p. 94


in Américo de Sousa (2004), O homem com medo de si próprio, Porto: Estratégias Criativas, p. 24

Etiquetas:

04 janeiro 2009

Relações homossexuais: práticas contrárias à razão?

No JN de hoje, o professor universitário Mário F. S. Ferreira assina um artigo intitulado "O eclipse da razão" onde, para condenar certo relativismo - que, aliás, não chega a definir (ético? epistemológico? ontológico?) -, afirma sem a menor reserva:

"E chega-se ao ponto de (...) pretender justificar práticas tão contrárias à razão como o aborto e as relações homossexuais".

Mas pense o que pensar sobre as relações homossexuais, que razões terá este professor universitário para as classificar como "práticas contrárias à razão"? Mesmo que existam, não se encontram no seu texto. E esse é o único eclipse que fica provado.

01 janeiro 2009

Pai Natal "Chique"

Numa altura em que está tão na moda juntar milhares de pais natais iguais, meras repetições ou cópias uns dos outros, como aqui muito bem se denuncia e ali documenta pela imagem abaixo...

...aqui fica um pai natal único, diferente e muito "chique" que descobri hoje mesmo à entrada do Restaurante "A Meta", da Mealhada, confessada preferência gastronómica do Alberto Gonçalves. Ora cliquem sobre as imagens e digam lá se é ou não é "chique".

Primeiro com as barbas em grande plano E agora em "corpo inteiro"

Feliz 2009.