30 abril 2009

Jornalista de ficção?


Tudo explicado. Se o Jornalismo faz uma construção ficcionada e José Rodrigues dos Santos é jornalista, só pode mesmo ser jornalista de ficção. Podia era poupar-nos às suas triviais e desaustinadas referências epistémicas para nos tentar impingir barbaridades filosóficas do género de "a verdade dos factos é a verdade do sujeito" ou "a percepção da realidade é intrinsecamente relativa" (o intrinsecamente é que dói). O popular romancista que também apresenta os telejornais, não alcança que são precisamente as limitações naturais do jornalista que o obrigam à maior objectividade possível, pois só esta é verdadeiramente oponível a quem o lê, vê ou escuta. O facto de uma notícia passar pela subjectividade do jornalista (constatação trivial) não implica que ela seja ainda apenas subjectiva quando chega ao seu destinatário.

26 abril 2009

Sócrates e a ambiguidade presidencial

Sócrates diz que concorda com o Presidente. Palpita-me que sempre o dirá, mesmo que o Presidente não concorde com ele. Mas até acho bem. Porque Sócrates tem nome e o Presidente, que se saiba, não o nomeou. Ora se o Presidente vem pedindo aos outros para falarem verdade, é porque ele próprio fala verdade. E se, além disso, é tão avesso à retórica, não quis, por certo, recorrer à ambiguidade. Sucede que recorreu. Não se estranhe, por isso, que Sócrates diga que não pode estar mais de acordo com o Presidente. Eu próprio não posso estar mais de acordo com ambos. E daí?

14 abril 2009

A Retórica em Congresso

Começa hoje na Universidade Lusófona, em Lisboa, um ciclo de três congressos das Ciências da Comunicação: VI SOPCOM, 8º. LUSOCOM e 4º IBÉRICO. Os temas serão, respectivamente, ‘Sociedade dos Media: Comunicação, Política e Tecnologia’, ‘Comunicação, Espaço Global e Lusofonia’ e ‘Redes, Meios e Diversidade Cultural no Espaço Ibérico’.

No que respeita às comunicações sobre Retórica, o programa é o seguinte:

4ªfeira 15.04.2009-6.º SOPCOM/8.º LUSOCOM
Sessão 1 - Retórica e Argumentação
9.00-10.30 Sala 2.2 Biblioteca
Coordenação: Osvando José Morais

Enrique Castelló Mayo, Universidade de Santiago de Compostela
- La apuesta en escena política: la génesis retórica del candidato como dramatis personae
Manuel Joaquim de Sousa Pereira, Universidade de Santiago de Compostela
- Marketing Pessoal
José Esteves Rei, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
- Notícia de um título com 2000 anos: Manual de Campanha Eleitoral, Quintus Cícero

***

6ªfeira 17.04.2009-6.º SOPCOM/4.º IBÉRICO
Sessão 1 - Retórica e Argumentação
10.45-12.15 Biblioteca 2.4
Coordenação: Tito Cardoso e Cunha e Rafael Gomes Filipe

José Sílvio M. Fernandes; Joaquim José S. Pinheiro; e Cristina Maria N. G. S. Pinheiro, Universidade da Madeira
- Do bom e do mau orador. Critérios de análise no Brutus de Cícero e sua aplicabilidade contemporânea
Pedro Filipe Xavier Mendonça, Universidade de Lisboa - Instituto de Ciências Sociais
- Tecnologia e Retórica: Para Uma Retórica da Funcionalidade Útil
Rafael Gomes Filipe, Universidade Lusófona
- Crítica da crítica de Platão à Retórica
Américo de Sousa, Universidade da Beira Interior
- A retórica de massas e a formação da opinião pública

12 abril 2009

Pacheco dirige míssel coreano a Obama *

O míssil foi lançado pelos norte-coreanos mas não é contra eles que Pacheco reclama. Pacheco reclama contra Barack Obama. Pacheco é coerente, sempre foi. Nas eleições presidenciais americanas apostou no candidato que perdeu, não é agora que vai dar loas ao que ganhou. E Obama, como todo o político que faz ou decide alguma coisa, irá cometer erros. Pode, pois, ir já contando com as vergastadas de Pacheco Pereira que, na hora própria, não o poupará. Na hora própria, se não for antes. Porque, por via das coisas, parece que resolveu ir já adiantando serviço, ao espalhar que Obama é pura retórica ou ilusão da palavra e que de boas intenções está o inferno cheio.

Mas o que mais estranhei foi o “apelo à força” que fez na “Sábado” e na "Quadratura do Círculo", desta semana, com base em três mais do que controversas premissas, a saber:

(1) a desnuclearização do mundo de que fala Obama é completamente irrealista

(2) o míssel dos norte-coreanos mostra que "o mundo exige mais do que belas palavras e maravilhosas intenções".

(3) o mundo não é o Olimpo dos pacifistas mas antes cruel e conflituoso, pelo que a América tem é que recorrer à força e deixar-se de palavras bonitas que não param mísseis.

Deve-se, contudo, lembrar a Pacheco Pereira que o que faz em (1) é uma afirmação, no mínimo, prematura (logo veremos), que o que diz em (2) passa ao lado do míssel dos coreanos - pois com ele ou sem ele, o mundo sempre exigiu e irá exigir mais do que palavras bonitas - e que, finalmente, em (3), antes poderia considerar que não é pelo mundo já ser cruel e conflituoso que se deve torná-lo ainda mais cruel e conflituoso, recorrendo ou apelando à violência, sem esgotar primeiro todas as possibilidades de diálogo e persuasão, que é o que Obama está a fazer. Digo eu que não sou “Obamaníaco”, nem tão pouco, um “pacifista”.


Não queira, por isso, Pacheco Pereira dirigir a Obama o míssel que até os coreanos já deitaram ao mar.

* Cf. escreveu na Sábado: "O míssel dirigido a Obama"

11 abril 2009

Palavras feias

"a América tem é que recorrer à força e deixar-se de palavras bonitas que não param mísseis" *

"a América tem é que recorrer à força e deixar-se de palavras bonitas que não param mísseis" *

"a América tem é que recorrer à força e deixar-se de palavras bonitas que não param mísseis" *

"a América tem é que recorrer à força e deixar-se de palavras bonitas que não param mísseis" *

* Pacheco Pereira, in "Sábado" 08 Abr 2009


09 abril 2009

Barack Obama e os aplausos dos jornalistas

O insólito:-Barack Obama fala e os próprios jornalistas aplaudem.

Ocorreu em Londres na conferência de imprensa que o presidente dos EUA deu no final da cimeira do G20 e repetiu-se no sábado seguinte, já em Estrasburgo, na conferência de imprensa após a cimeira da Nato. Já se sabe que tais aplausos são jornalisticamente menos próprios e não é por se tratar de Obama que deixam de o ser. Mas se toda a regra tem excepção, talvez que esta excepção dos aplausos se tenha ficado a dever, sobretudo, ao excepcional aplaudido.

É, pelo menos, esta a ideia com que fico depois de ler o excelente artigo da jornalista Teresa de Sousa, no Público de ontem, no qual testemunha* que é difícil ficar-se neutral perante Barack Obama e explica porquê:

[a dificuldade] "não resulta do carisma e da capacidade de inspiração de Obama, nem das suas extraordinárias capacidades de comunicação. É mais do que isso. Como disse em jeito de autojustificação um jornalista japonês, 'ele responde mesmo às perguntas'. Neste caso, 'mesmo' não quer dizer apenas que não foge às perguntas. Quer dizer que se envolve nas questões e lhes responde com uma inteligência, um rigor e uma sinceridade que são absolutamente raras num político, quanto mais no político mais importante do mundo. Foi a esse exercício de inteligência e rigor intelectual que os jornalistas não conseguiram resistir. O que ele diz faz sentido. Faz um tremendo sentido".

E faz mesmo. Obama diz, por exemplo: "Se nos comprometermos com o desarmamento nuclear, teremos uma muito maior autoridade moral para negociar com Teerão". Será aceitável duvidar da inteligência, do rigor e da sinceridade de um presidente dos EUA que anuncia uma coisa destas ao mundo? Teresa de Sousa tem toda a razão: é muito difícil ficar "neutral" perante Obama. Abençoada dificuldade.

*Teresa de Sousa esteve presente na conferência de imprensa de Estrasburgo

07 abril 2009

Mudança na UBI

Prof. João Queiroz, novo Reitor

Parabéns e votos de muito sucesso.

05 abril 2009

Millôr: sorrir sem deixar de pensar

No Público, José Vitor Malheiros traz hoje à sua "Página de Rosto" o inconfundível humorista brasileiro Millôr Fernandes, que também conheci no tempo em que ele colaborava semanalmente no Diário Popular. É uma lembrança mais do que justa pois Millôr tem o raro dom de nos fazer sorrir sem deixar de pensar. Como nestas duas preciosidades:

"Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim"

"Fique certo de uma coisa, meu filho: se você mantiver seus princípios com firmeza, um dia lhe oferecerão excelentes condições de abdicar deles"

A retórica dos possíveis

"é possível que ao fim de 40 ou 50 anos, o casal continue enamorado e sexualmente motivado, tal como quando se apaixonou"

- conclui Bianca Acevedo, psicóloga e investigadora da Stony Brook University, em Nova Iorque, no estudo científico "Does a Long-Term Relationship Kill Romantic Love?" hoje citado pelo Público.

Possível, talvez seja. Mas possível é tanta coisa que significa quase nada. Até o contrário é possível. Que tenha sido necessário importunar mais de 12.000 pessoas* para chegar à esfarelada conclusão é o que surpreende. Porque, vamos lá a ver, para provar que algo é possível não precisamos mais do que um caso favorável.

* Segundo o Público, a autora analisou 42 estudos englobando 6.000 casais.