25 julho 2010

Desabafo ainda muito a quente

Com este calor é impossível pensar seja no que for - quanto mais escrever uma frase.

19 julho 2010

Para lá de cacha pregos

Em boa hora os professores António Fidalgo (Portugal) e Marcos Palacios (Brasil) tomaram a iniciativa de criar este blogue de apresentação do LabCom, da Universidade da Beira Interior e da própria Covilhã.
O Professor Marcos Palacios, que está entre nós a colaborar activamente com a UBI e o LabCom, na qualidade de pesquisador pós-doutoral e Professor Catedrático Visitante, diz que "a ideia inicial foi a da criação de um espaço para servir de ligação entre pesquisadores brasileiros sediados aqui no Labcom e colegas no Brasil, mostrando projetos em andamento, abrindo possibilidades e incentivando-os à integração neste canal de colaboração Brasil-Portugal, através de convênios, visitas, participação em eventos, estágios pós-doutorais, doutorados sanduíches", bem como oferecer "dicas e informações para facilitar a busca de apoios institucionais, agilizar os processos de liberação e as tramitações consulares e burocráticas que cercam as saídas para formação acadêmica no Brasil".
Lê-se o Professor Marcos Palacios e percebe-se que se sente bem em Portugal, na Covilhã e no LabCom (o que só nos orgulha) e quer passar esta sua experiência aos colegas brasileiros que ainda não nos visitaram. Porque palavras destas não enganam:
"É na Covilhã, com sua quietude, sua segurança, seu ar puro, que está instalado o Labcom, um dos mais bem avaliados centros de pesquisa e ensino em Comunicação de Portugal. Parte de uma Universidade moderna alojada em prédios antigos, que já abrigaram os centenários lanifícios da região, o Labcom oferece um espaço privilegiado para quem necessita de sossego e boa interlocução acadêmica para pensar, escrever, publicar."
É sim senhor. Eu que o diga (sempre que lá vou).
* Já agora se quer saber porque é que o blogue se chama "Para lá de cacha pregos" pode satisfazer a sua curiosidade aqui.

18 julho 2010

Metamorfose mediática



"[Larry King] sempre se defendeu dizendo que não era um jornalista, mas um apresentador. Um infotainer, no jargão dos media"
Público (P2), 02 de Jul 2010


A entrevista é um género jornalístico. Anabela Gradim, considera-a mesmo o género básico de toda a praxis jornalística. É então de supor que seja levada a cabo por jornalistas. E um jornalista, já se sabe, em princípio, só é jornalista por fazer jornalismo. Mas o jornalismo, mesmo na televisão (ou especialmente na televisão), é demasiado chato para caber em formatos lúdico-comerciais como o talk-show, o concurso que dá milhões, o programa da manhã, o programa da tarde, etc. Como resolver o problema? A "técnica" é conhecida e aposto que não foi inventada por Larry King: o entrevistador "transforma-se" em apresentador. É a metamorfose mediática do momento: o jornalista que passou a artista da TV.

16 julho 2010

Exemplo de uma boa questão retórica?

Esta

, por exemplo.

15 julho 2010

Facilidades

"É mais fácil alguém ser preso efectivamente por ter fugido ao fisco do que por ter espancado e assaltado uma idosa indefesa"

Vitor Rainho,
Tabu (Sol), o9 de Julho 2010

12 julho 2010

Ministério da Cultura: satisfação ou festa?

Passou pela respectiva assessoria de imprensa um comunicado onde se lê que o Ministério da Cultura aceitou “com grande satisfação” o pedido de demissão do director-geral das Artes.

Com grande satisfação. Mas onde pára o decoro? Não houve ninguém que reparasse na falta de maneiras e na pública deselegância em que uma afirmação destas se traduz? Será este estilo de comunicação condizente com o que é exigível a qualquer Ministério, maxime, ao da Cultura?

Oxalá que, ao menos, a satisfação não tenha já desatado em festa. Quem sabe se ainda vamos a tempo de poupar nos foguetes?

Actualização: 100% de acordo com o Francisco Viegas.

11 julho 2010

A retórica da golden share

Apesar de ninguém ter pedido a minha opinião sobre a golden share da PT (ou precisamente por isso), aqui vai ela:

1) Não simpatizo com a
golden share, como não simpatizo com qualquer direito especial de um ou mais accionistas (especialmente no caso do Estado, que deve(ria) ser exemplar). Não apenas porque restringem injustificadamente a "livre circulação de capitais" (seja lá isso o que for) mas principalmente porque ao violarem o princípio da proporcionalidade, instalam a desigualdade entre accionistas, fazendo com que uns passem a ser mais accionistas do que outros, independentemente da quantidade de acções tituladas. Se o Estado considera que há interesse estratégico nacional, então que assegure uma participação no capital da empresa proporcional a esse interesse. Que se comporte, enfim, como um accionista entre outros.

2) Mas a
golden share na PT existia, de facto, à data em que a Telefónica - algo afrontosamente, reconheça-se - resolveu ignorar a posição do Governo português e propor a compra da Vivo, por um montante que qualquer aprendiz de merceeiro não teria dificuldade em considerar como muito tentador para os accionistas privados (naturalmente, mais virados para a rentabilidade do seu investimento do que para a estratégia nacional).

3) Logo, considerando o Governo português que a alienação patrimonial da PT (venda da Vivo) era contrária aos interesses estratégicos nacionais fez muito bem em accionar a dita
golden share. Pode-se perguntar: estavam em causa tais interesses estratégicos nacionais? Foi o melhor modo de os defender? Justificava-se o estilo retórico-agressivo do costume com que o Primeiro-Ministro indirectamente terá falado (pelo menos) para a Telefónica e para o presidente do BES? É o que falta apurar. Mas se os pressupostos invocados estão certos, então o Governo agiu bem.

* A
acção por incumprimento que deu origem ao Acordão do passado dia 8, foi interposta pela Comissão Europeia, em 21 de Abril de 2008, há mais de dois anos, portanto. Ora nada tendo a ver a referida acção com a proposta concreta da Telefónica, como é que se deu esta tão feliz "quase coincidência" entre a data da proposta da Telefónica e a data do Acórdão? Lá como cá, as mesmas perplexidades temporais ou oportunísticas da máquina judiciária.

04 julho 2010

O tempo que pára dentro de nós

"Estamos a destruir o valor do acto intelectual" - diz Alberto Manguel, autor de "Uma História da Leitura", best-seller mundial, na entrevista que concedeu a Ana Gerschenfeld (de quem sou fã) para o Ipsilon da passada sexta-feira.

Confesso que me ficaram os olhos na experiência de vida que o autor repartiu pelos quatro cantos do mundo (Argentina, Israel, Taiti, Canadá, França) e no pormenor excêntrico de ter tido uma "aia checa de língua alemã"... que falava inglês.
Mas não é a sua obra (que ainda desconheço) que o traz aqui nem, aliás, nada que lhe pertença. O que o traz aqui é uma coisa muita minha. É a minha total surpresa por encontrar nas páginas do Público um autor tão viajado, que viveu largos períodos de tempo em diferentes culturas e, não obstante, quando a entrevista se dirige para o novo, para o futuro, para a electrónica e para a Internet, para o computador e para o ebook, tudo o que se lê do senhor é uma descabelada rejeição dos novos meios e formatos digitais (que são já hoje imprescindíveis na produção dos próprios livros que escreve, de papel, claro). Da entrevista trago estas quatro pérolas:
"O ebook (...) não é mais do que 'uma tábua de argila com mais memória'. (...)
O que está a perder terreno é a inteligência. Estamos a tornar-nos mais estúpidos porque vivemos numa sociedade na qual temos de ser consumidores para que essa sociedade sobreviva. E para ser consumidor, é preciso ser estúpido, porque uma pessoa inteligente nunca gastaria 300 euros num par de calças de ganga rasgadas?"
"Se quiser apenas ler um texto, conhecer um texto, tanto me faz que seja num ecrã ou num livro electrónico. Mas se quiser ler como costumo ler - eu, Àlberto MangueI -, fazendo anotações nas margens, passando da página 74 para a página 32 para depois ir espreitar a página 3, não posso fazer isso com um livro electrónico - ou talvez possa, mas é mais complicado. A mim o ebook não me é útil- mas percebo perfeitamente que o seja para outros."
"o problema com a Internet é que nos dá a ilusão de possuirmos toda a informação que contém. Mas o facto de essa informação existir não significa que seja nossa. Temos de saber procurá-la, saber se é fiável ou não, saber utilizar as associações que fazemos. Podemos brincar com a Internet dias a fio, à procura de anedotas, de bocados de informação recôndita, etc. É óptimo, mas tem de haver uma actividade mental capaz de incorporar, destilar, recriar essa informação. Ora, um dos grandes problemas actuais dos bibliotecários é que os jovens que chegam às bibliotecas, e que estão habituados a utilizar a Internet para fazer uma espécie de colagem de informação, não sabem ler. Não sabem percorrer um texto para extrair aquilo que precisam, repensá-lo, dizê-lo com as suas próprias palavras, comentá-lo, associá-lo ou resumi-lo - e sobre tudo, memorizá-lo -, actividades que fazem parte da leitura enquanto acto criativo. Estão habituados à ideia de que, como isso está lá e está acessível, já é deles. Não é assim."
"A escola não tem culpa, é a nossa so­ciedade que é culpada. (...) Estamos a transformar os centros de ensino em centros de trei­no. Estamos a criar escravos. Somos a primeira sociedade que entrega os seus filhos à escravidão, sem qualquer sentimento de culpa."
E informa a entrevistadora:
"Não usa telemóvel, nem internet, não tem email. Não os acha úteis."
Que dizer? Talvez, nada. Só tenho pena que Alberto Manguel não tenha falado mais do que sabe (escrever) e menos, muito menos, do que, pelos vistos, lhe está a passar completamente ao lado (a tecnologia). Ao que chegamos quando o tempo pára dentro de nós.